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Após Ficar 27 Anos na Cadeia Acusado de Matar Mais de 50 Pessoas, Cabo Bruno é Assassinado no Interior de São Paulo

Data do post: 27/09/2012 09:55:53 - Visualizações: (2114)

Crime ocorreu em Pindamonhangaba, no interior de São Paulo. Ex-policial fez parte do esquadrão da morte e ficou preso por 27 anos.

       O ex-policial militar Florisvaldo de Oliveira, conhecido como Cabo Bruno, de 53 anos, foi executado na noite da última quarta-feira (26), em Pindamonhangaba, no interior de São Paulo. O crime ocorreu por volta das 23h45 no bairro Quadra Coberta, quando ele chegava em casa, após participar de um culto na cidade de Aparecida.

            Cabo Bruno estava solto havia 35 dias depois de cumprir 27 anos de prisão e ser beneficiado, no dia 23 de agosto, pela lei do indulto pleno. Ex-policial militar, ele era suspeito de cometer mais de 50 assassinatos na década de 80 na capital paulista como chefe do esquadrão da morte e chegou a ser condenado a 120 anos de prisão.

            De acordo com a Polícia Militar, Florisvaldo estava acompanhado de parentes quando voltava para casa, que fica na rua Álvaro Leme Celidônio, quando dois homens chegaram - um de cada lado da rua -  e efetuaram cerca de 20 disparos contra o ex-policial, que morreu na hora. A maior parte dos tiros atingiu o rosto e o abdômen. Nada foi levado e mais ninguém ficou ferido.

            Segundo o tenente da PM, Mario Tonini, os tiros partiram de pistolas calibre ponto 45 e 380. "Foram vários disparos só contra ele e tudo indica que foi uma execução, mas ainda depende da investigação da Polícia Civil", disse ao G1.

            Os parentes estão abalados e relataram à reportagem desconhecer os autores dos disparos. O corpo foi encaminhado ao Instituto Médico Legal (IML) de Pindamonhangaba, onde permanece até a manhã desta quinta-feira (27).

            Indulto pleno

           Cabo Bruno cumpria desde 2002 a pena na penitenciária Doutor José Augusto César Salgado, a P2 de Tremembé, onde atuava como pastor. Em 2009, o advogado de defesa pediu a progressão da pena - do regime fechado para o semi-aberto. Os exames criminológicos apontaram bom comportamento do preso.

            Em 14 de agosto de 2012, o promotor Paulo José de Palma, responsável pelo processo do Cabo Bruno, encaminhou um parecer favorável ao indulto para a decisão final da Vara Criminal.

            Junto com o parecer do promotor, baseado em lei que prevê a liberdade definitiva para presos com bom comportamento e com mais de 20 anos de prisão cumpridos, estão documentos com elogios de funcionários e da própria direção da P2 quanto à conduta de Florisvaldo na unidade.

            Em agosto, na saída temporária dos presos no Dia dos Pais, o cabo deixou a penitenciária pela primeira vez. A saída foi comemorada por amigos no site de relacionamento da mulher dele, uma cantora evangélica que se casou com Florisvaldo dentro da penitenciária.

            Esquadrão da Morte, prisões e fugas

            Cabo Bruno foi preso pela primeira vez em 1983 e levado para o presídio militar Romão Gomes, na capital. Entre 1983 e 1990, o ex-pm fugiu três vezes da unidade, uma delas inclusive depois de fazer funcionários reféns. Em maio de 1991 foi recapturado pela quarta vez, e nunca mais saiu.

            Em junho de 1991 Florisvaldo foi levado para a Casa de Custódia de Taubaté, onde ficou até 1996. Dentro do piranhão da Custódia, unidade onde nasceu uma das principais facções criminosas do Estado, o ex-policial permaneceu os mais de cinco anos em uma cela isolado 24 horas dos demais presos.

            Em 1996, Florisvaldo foi levado para o Centro de Observação Criminológica, onde ficou até 2002, quando foi transferido para a P2 de Tremembé. Em 2009 ele passou do pavilhão do regime fechado da P2 para o semi-aberto, dentro da mesma unidade, separados apenas por uma muralha.

            Em 2012, ele teve o benefício da saída temporária do Dia dos Pais, ganhando o indulto pleno e sendo liberado no dia 23 de agosto.

            PERÍODO DE LIBERDADE

            Cultos evangélicos, visita a parentes e medo do crime organizado, esta era a rotina de Cabo Bruno.

           Na noite fria da quinta-feira 30 de agosto, ele participou do culto na Igreja Pentecostal Refúgio em Cristo onde ser reuniram pouco mais de 30 pessoas, a maioria mulheres e crianças, acomodadas nas cadeiras de plástico do templo localizado ao lado de um terreno baldio no bairro da Fonte Imaculada, em Taubaté – cidade distante 130 quilômetros de São Paulo. De calça social e jaquetão, o rosto vincado por rugas, um homem grisalho permanecia sentado na parte direita do púlpito com os olhos fechados. Até que alguém o chamou para pregar.

            De fala cadenciada e dicção escorreita, ele contou parábolas, citou, sem olhar a “Bíblia” à sua frente, versículos inteiros do Evangelho e se permite uma confissão: a alegria de ter feito, pela primeira vez em sete anos de relacionamento, as compras de supermercado com a mulher, a pastora e cantora gospel Dayse França, 46 anos. Tal confidência descortina o passado do orador. Faz apenas sete dias que Florisvaldo de Oliveira, 53 anos, conhecido como Cabo Bruno, havia deixado a prisão, após 27 anos de cárcere.

            As palavras do atual missionário são diametralmente opostas, em conteúdo e tom, às proferidas por ele em 1984, quando liderava um grupo de extermínio na zona sul da capital paulista. À época, foragido da Justiça, Cabo Bruno disse para as lentes de uma emissora de televisão: “No começo, eu contava as pessoas que matava. Mas parei no 33 e acabei perdendo a conta. Acho que já passei de 50 mortes.” Contando com a benemerência de comerciantes da região e sob o pretexto de combater o “mal”, o ex-policial militar personificou, como nenhum outro antes ou depois dele, a PM que mata, sem nenhuma possibilidade de defesa, os supostos criminosos. Ficaram célebres as execuções comandadas por ele, que trafegava pela periferia paulista em carros escuros, a exemplo da chacina em uma pequena oficina de móveis, onde seis jovens foram assassinados a tiros. Por esse crime, foi condenado a 43 anos.

            Nos primeiros dias em liberdade, Cabo Bruno saiu pouco da casa alugada por sua mulher em Pindamonhangaba – cidade vizinha a Taubaté –, que divide também com os três enteados. Visitou amigos com os quais deixou pertences em Pindamonhangaba e Taubaté, freqüentou três cultos evangélicos, conheceu parentes da esposa e foi a uma agência bancária. As histórias do passado como policial militar ele se limitou a contar a um dos enteados, sob o olhar incrédulo da pastora Dayse França, cujo nome civil é Dayse Silva de Oliveira. “Eu não conheci o passado dele. Para mim não existe Cabo Bruno, e sim o pastor”, afirma. O casal se conheceu há sete anos, quando a missionária foi realizar trabalho comunitário na prisão onde Cabo Bruno cumpria pena. O casamento completou quatro anos e, durante todo esse período, os dois se viam uma vez por semana, durante as visitas. “Estamos convivendo pela primeira vez, ainda em lua de mel”, diz Dayse, que fundou uma filial da Refúgio em Cristo, no final de 2010. A Igreja Pentecostal tem matriz no Rio de Janeiro.

            Na época da reportagem feita pela ISTOÉ, Cabo Bruno não admitiu, mas, estava com medo. ISTOÉ apurou que uma eventual morte dele é considerada um troféu valioso pelos líderes do Primeiro Comando da Capital (PCC), a principal organização criminosa do Estado. “Sempre vai haver essa possibilidade (de vingança) e a gente tenta evitar se expor ao máximo por causa disso. Eu não posso ficar só escondido, eu acredito que o mesmo Deus que me protegeu até hoje vai continuar me protegendo”, afirma. Dayse conta que, nos primeiros dias fora da cadeia, seu marido parecia incomodado, um pouco assustado, ainda tentando se acostumar à sensação de liberdade. À ISTOÉ o ex-policial revelou que passará o mês de setembro visitando parentes, a mãe e as filhas que moram em São Paulo.

            O atual missionário diz sonhar em viajar para pregar o Evangelho. Quer ser chamado pelo apelido de infância, Bruno, sem a patente que lhe deu fama de “Matador da Zona Sul”. Ele se esquiva a falar desse passado, a não ser que seja por dinheiro. ISTOÉ conversou rapidamente com Bruno, em duas ocasiões – uma por telefone e outra na igreja. Nas duas oportunidades, ele afirmou que uma entrevista mais longa seria feita apenas sob remuneração, pois as anteriores apenas trouxeram prejuízo à sua imagem. Ele teria chegado a negociar com uma emissora de televisão, a quem pediu R$ 50 mil, de acordo com seu advogado Fábio Tondati Ferreira Jorge, mas a transação não foi adiante. O dinheiro resultante de uma entrevista seria usado para viagens missionárias e para se afastar de potenciais inimigos, como reiterou à ISTOÉ sua mulher, Dayse. “Só vou me expor e dar uma entrevista se for remunerada. Por enquanto eu estou podendo andar sossegado, o que está saindo na televisão são fotos antigas, então as pessoas não podem me identificar”, afirma. Na quinta-feira 30, durante o culto em Taubaté, ISTOÉ fez a primeira imagem de Cabo Bruno após sua liberdade.

            Na prisão, após três fugas, houve a declarada conversão, a ponto de Cabo Bruno se tornar o capelão do presídio – o que explica sua presença no culto evangélico na noite da quinta-feira 30, uma de suas raras saídas à rua após a liberdade. Depois de falar por 15 minutos, sob aplausos e salvas de “Aleluia!”, o ex-policial volta a se sentar, postura ereta, mão sobre mão. Um homem presente ao culto pede a palavra e o exorta a não se desviar do caminho da fé. “Quando a gente apaga algo que está escrito a lápis sempre deixa vestígios no caderno. Quando o sangue de Cristo passa por cima não fica vestígio nenhum”, afirma o fiel. Bruno segura a mão da mulher com força e parece chorar. Mantém-se nessa posição durante o restante da celebração. Ao final, um dos presentes se ajoelha e pede que o ex-policial o abençoe. Ele segura a cabeça do rapaz com força e diz palavras em voz baixa, por dois minutos. “Meu principal chamado é ser este pastor, eu saí da prisão para isso”, afirma à ISTOÉ.

            Entre 1983 e 1990, Cabo Bruno fugiu por três vezes de penitenciárias paulistas. Ficou detido em definitivo a partir de 1991. Desde então, cumpriu ininterruptamente 21 anos de detenção, sendo os seis primeiros na Casa de Custódia de Taubaté, em regime de isolamento dos outros presos. Neste período, sem direito a banho de sol por questões de segurança, ele aprendeu a pintar quadros de paisagismo, cujas vendas sustentavam sua família fora da prisão. Agora em liberdade, o ex-policial quer continuar a pintar quadros. Famoso colecionador de obras de arte, o banqueiro Edemar Cid Ferreira, condenado por formação de quadrilha, lavagem de dinheiro e gestão fraudulenta por conta da quebra do Banco Santos, chegou a comprar dez obras de Cabo Bruno, no valor de R$ 1,5 mil cada. Juízes e promotores e outras autoridades também estão entre seus compradores. “Mas só vou me dedicar a pintar nas horas vagas”, diz ele.

            TRAJETÓRIA

 

 

Do G1 & ISTOÉ