No papel tudo funciona, e na prática tudo é improvisado, e assim, a Saúde de Tocantinópolis ganhou um prêmio durante um Congresso Nacional de Saúde em Brasília (DF).
Acompanhei atônito uma notícia publicada no site conexãoTO, ainda em Agosto deste ano, mostrando que nossa querida Tocantinópolis havia recebido uma medalha no XXXI Congresso Nacional de secretarias Municipais de Saúde (CONASEMS), pelas ações desenvolvidas em comunidades do município. Então matutei aqui. Que comunidades foram desenvolvidas essas ações, será se foram as indígenas? E corri não muito apressado atrás de informações que pudessem me levar as ações premiadas.
Na postagem sobre a premiação constava o seguinte: "Durante o Congresso a Secretária de Saúde, Maria da Conceição Marinho juntamente com a coordenadora e a dentista do Polo Base Indígena de Tocantinópolis, Samara Milhomem e Cristina Rodrigues, respectivamente, apresentaram as experiências exitosas sobre mortalidade materno infantil e Saúde Bucal Indígena, realizadas nas aldeias do município".
Após muito perguntar encontrei algumas respostas em fotos, e percebi que no caso do prêmio, tudo foi mascarado, já que as fotos que conseguimos mostra um atendimento precário, feito sem as mínimas condições de higiene tanto para os profissionais que são obrigados a exercer suas funções e muito menos para as cobaias indígenas.
Na imagem acima, dá pra ver o tipo de atendimento especial que os indígenas vem recebendo, e que levou a secretaria de saúde do município ter ganho o tal prêmio no congresso em Brasília. O material era colocado na tampa traseira de uma caminhonete e os "pacientes", atendidos sentados em cadeiras normais em área aberta.
Nesta outra foto ao lado, uma jovem recebe atendimento sentada em uma caixa térmica, aonde uma outra caixa servia de mesa para amparar os medicamentos usados no atendimento, e no canto esquerdo da foto dá pra ver novamente o veículo com a tampa aberta servindo de mesa como na foto acima. Estivemos visitando algumas aldeias e vimos muitas crianças e adultos com os dentes estragados, que infelizmente são maiorias em várias localidades indígenas, o que desmente o prêmio dado á secretaria do município.
Pelo menos o atendimento nos outros casos de saúde há uma melhora não muito significativa, pois para se tratar da boca o improviso era o carro chefe, para cuidar do restante do corpo os atendimentos pelo menos são feitos em uma sala até melhorzinha, isso na Aldeia São José. Um dos postos de Saúde localizado na Aldeia Palmeiras que fica a cerca de 57km de Tocantinópolis, encontra-se com uma das paredes feita pelos próprios indígenas com barro, caída, e não possui banheiro para os pacientes nem tão pouco para os técnicos de enfermagem fazerem suas necessidades pessoais, uma calamidade extrema. Os funcionários que prestam serviço na área da saúde nesta aldeia, dormem na escola que foi cedida pelos professores para que eles pudessem passar a noite, mas estes tem que deixar tudo pronto no outro dia cedo para as aulas.
Procuramos alguns funcionários mas, quase nenhum teve coragem de falar, mesmo tendo a garantia do sigilo. Uma, que pediu até "Pelo Amor de Deus", que não fosse citado o seu nome, contou que eles são obrigados a apresentar bons resultados nem que seja no papel, pois trabalham sem a mínima condição tanto de higiene como de materiais. Soubemos relatos não confirmados de que uma técnica de enfermagem teve que ser tirada as pressas da Aldeia Bonito, pois uma indígena descontente com o atendimento no Posto de Saúde, queria agredi-la.
Uma outra funcionária que trabalha em um dos postos de saúde de uma das aldeias, relatou que eles são vigiados para não fotografar o ambiente de trabalho com risco de serem demitidos sumariamente caso alguma foto chegue a mídia.
Os indígenas clamam por uma intervenção do Ministério Público, para que obrigue o município a fornecer um atendimento adequado, e ficaram surpresos quando mostramos cópias da matéria divulgada na mídia de que a secretaria do município havia ganho um prêmio através do atendimento dado a eles.
