Modalidade criminosa de “novo cangaço” ficou conhecida em todo País e trata-se de roubo praticado contra instituições financeiras e assaltos em agências bancárias.
A Polícia Civil do Tocantins, por meio da 1ª Divisão Especializada de Repressão ao Crime Organizado (1ª DEIC – Palmas), que é responsável pelas investigações de roubo a bancos e instituições financeiras em todo Tocantins, fechou o ano de 2020 sem nenhuma ocorrência de atentado criminoso de assaltantes armados contra bancos ou instituições financeiras e também contra carros-fortes.
A ausência de registros em 2020 é significativa e é resultado do trabalho que vem sendo realizado no combate a este tipo de crime. Para se ter noção, em 2016 foram 10 roubos, com pico de 12 roubos em 2017 e redução em 2018 e 2019, com seis e quatro roubos respectivamente a carros-fortes e agências bancárias na modalidade que ficou popularmente conhecida como “Novo Cangaço”.
O delegado-chefe da 1ª DEIC Palmas, Eduardo Menezes, atribuiu tal resultado ao aprofundado trabalho de investigação da Polícia Civil iniciado no final do ano de 2019 e que se estendeu por 2020. O trabalho, segundo ele, não se limitou na identificação dos assaltantes responsáveis por participar da cena do crime, mas também atingiu a parte do grupo criminoso atuante no apoio logístico de bastidores, como a compra do pesado armamento e munição utilizados, seu transporte e outros atos de preparação que compõe a complexa estrutura que se exige para atentados desse porte.
Ele explicou ainda sobre o modus operandi do “novo cangaço”. “A peculiaridade no novo cangaço é que os criminosos chegam em grande quantidade, sitiam a cidade e enquanto um grupo fecha as saídas de Batalhões da Polícia Militar e disparam aleatoriamente para aterrorizar a população, outro segue para a agência bancária e explode caixas eletrônicos”.
A complexa e minuciosa coleta de dados foi materializada nas Operações “Guerra Justa” e “Américo Gama”, ambas deflagradas pela Polícia Civil no ano passado e responsáveis por desarticular as duas principais organizações responsáveis atuantes no Tocantins.
Guerra Justa
Na operação Guerra Justa, a investigação conseguiu apontar os cincos supostos responsáveis por atacar um carro-forte em agosto de 2019, na TO-30, entre as cidades Colinas do Tocantins e Arapoema, na região centro norte do Estado. Na época dos fatos, o tiroteio assustou e aterrorizou os moradores do Povoado chamado 19, próximo ao município de Arapoema. Chamou atenção da polícia, o poderio bélico dos assaltantes, que chegaram a utilizar um metralhadora calibre .50, capaz de parar tanques de guerra e de abater aeronaves.
As investigações da Polícia Civil, segundo o delegado Eduardo Menezes, apontaram para a utilização de uma aldeia indígena na região do município de Santa Fé do Araguaia como ponto de apoio do grupo criminoso, utilizado no planejamento do atentado e, principalmente, na fuga após o crime. Situada às margens do Rio Araguaia, a tribo de índios serviu como importante e estratégico instrumento a tornar célere o retorno dos assaltantes ao estado do Pará.
Um dos alvos da operação foi, inclusive, um indígena da localidade que foi recrutado pelo bando criminoso para auxiliar na criação de rotas de fuga pela região de mata e na travessia pelo rio. De acordo com que se apurou nas investigações, o indígena ficou responsável por atravessar os criminosos e seu pesado armamento em barcos da aldeia.
Identificou-se também que outra parte do grupo ficava encarregada de realizar o transporte do pesado armamento utilizados nos assaltos, valendo-se dos caminhões de uma madeireira, localizada na cidade de Cabrobró, no Estado de Pernambuco. A empresa, com criação de fachada, era utilizada para dar discrição à atividade criminosa praticada, visto que os assaltantes e as armas de fogo, após os atentados contra as instituições financeiras, viajavam escondidos nos veículos. Os investigadores também descobriram um ala do bando responsável por financiar a compra de munições.
O aprofundar das investigações permitiu ainda ter uma ideia da envergadura da organização. Com monitoramento, os investigadores descobriram que o grupo criminoso, após a tentativa de roubo ao carro-forte na cidade de Arapoema, foi responsável por outros três ataques. Um, ainda no mês de agosto de 2019, foi contra outro carro-forte na cidade de Marabá (na ocasião os assaltantes conseguiram subtrair dinheiro).
Já em janeiro de 2020, o bando foi também responsável por mais dois assaltos no estado do Pará. Um no dia 6, contra um carro-forte que trafegava pela BR-010, entre as cidades de Ipixuna do Pará e Paragominas e outro no dia 30 de janeiro, praticado contra uma agência bancária do Bradesco. Na ocasião, vinte e cinco pessoas foram feitas refém (as vítimas foram usadas com escudos humanos, sendo postas nos parabrisas dos veículos utilizados pelos criminosos para fugir.) Com parte dos mais de um milhão de reais roubados da agência bancária, quatros lideranças do bando viabilizaram a compra de mais duas metralhadoras .50, adquirida por 200 mil reais cada.
Na Operação Guerra Justa foram cumpridos 20 mandados de busca e apreensão, cumpridos em várias cidades como Xinguara-PA, Marabá-PA, Paulo Afonso-BA, Petrolina-PE e Cabrobró-PE. Ao todo, neste único Inquérito Policial, foram presas 14 pessoas envolvidas no assalto ao carro- forte.
Américo Gama
Na Operação Américo Gama, a Polícia Civil do Tocantins prendeu um dos maiores e mais procurados assaltantes de banco do país, fundador e líder da famosa “turma dos pipocas”, responsável por atacar um carro-forte na cidade de Pequizeiro, no dia 24 de outubro de 2019. Essa liderança dos pipocas foi presa na cidade de Belém do Pará e transportado de avião até a cidade de Palmas. A perseguição aos criminosos, na ocasião, aterrorizou a população da cidade por cerca de 15 dias. O nome da operação, foi uma homenagem da Policia Civil do Tocantins ao Policia Militar Deusdete Américo Furtado Gama, morto com um tiro de fuzil disparado por um dos irmãos Pipocas no confronto em meio à mata.
Os investigadores da DEIC de Palmas identificaram em Guaraí, a existência de uma rede criminosa formada por moradores da região, responsáveis por dar o suporte a “turma dos pipocas”, tanto no que tange ao planejamento do atentado patrimonial, quanto no que diz respeito ao resgate, logo que se tomou conhecimento do insucesso da empreitada. Cinco pessoas foram recrutadas pelos assaltantes para que contribuíssem, por exemplo, com seu conhecimento geográfico da localidade, indicando rotas de fuga, locais de esconderijo na mata e viabilizando locais para estadia do grupo. No resgate, o plano era que um dos fazendeiros da região auxiliasse o bando disponibilizando um de seus caminhões para transportá-los de forma despercebida pelas barreiras policiais montadas.
O saldo da Operação Américo Gama foi de seis mandados de prisão cumpridos e 13 mandados de busca e apreensão nos estados de Tocantins e Pará.