No campo, na cidade, na beira do rio, no meio do mato, onde tinha um estudante com dificuldades para se adaptar ao ensino não presencial, lá estiveram os educadores tocantinenses realizando a busca ativa para estimular a continuidade dos estudos. A implementação do ensino não presencial pela Secretaria de Estado da Educação, Juventude e Esportes (Seduc), em função da pandemia da Covid-19, reconfigurou os espaços de aprendizagem.
Ao longo do ano letivo de 2020, mais do que um estímulo para os estudantes, a busca ativa se transformou em um mecanismo de superação e aproximação para os profissionais da Educação à realidade do aluno. Aos estudantes da zona rural, que utilizavam o transporte escolar, foi garantindo a continuidade do ensino, por meio dos roteiros de estudo, entregues à família ou ao estudante, de 15 em 15 dias. Mais do que os roteiros, foram levados incentivos quando os alunos se sentiam desmotivados.
Conforme explica a titular da Seduc, Adriana Aguiar, a busca ativa nasceu da reestruturação do programa Evasão Escolar Nota Zero. “A iniciativa foi realizada por todas as unidades escolares da rede, como um processo de inclusão, por meio de uma ação articulada com os órgãos parceiros. Foram várias estratégias realizadas pelas comunidades escolares. Foram ações de cuidado e acolhimento com cada estudante neste contexto de pandemia”, afirma.
O Colégio Estadual Marechal Costa e Silva, em Muricilândia, por exemplo, contava com 276 estudantes matriculados nos ensinos fundamental e médio, incluindo a Educação de Jovens e Adultos (EJA). Desses, 194 estudantes residiam na zona rural, especialmente em assentamentos do município. Nas rotas do transporte escolar, dois professores acompanhavam o motorista na entrega dos roteiros de estudos e atividades impressas e orientavam os estudantes que estavam com alguma dificuldade.
A proposta da entrega dos roteiros com a presença dos professores foi feita pela diretora da unidade de ensino, Floraci Gonçalves Borges. “No começo, quando fizemos essa proposta da participação dos professores, eles não se empolgaram muito com a ideia, mas depois que as primeiras visitas foram feitas, eles não queriam mais deixar de ir. O contato com a realidade dos alunos foi transformador”, pontua.
O professor de Física do ensino médio e de Ciências do 6º ano do ensino fundamental, Samuel Sousa Lima, foi um dos que estranhou a proposta, mas, como ele mesmo conta, após as primeiras visitas não quis mais parar. “Hoje, a forma como olho para um estudante é completamente diferente da forma como olho para o outro. A realidade em que cada um está inserido diz muito do seu processo de aprendizagem”, ressalta.
O professor continuou falando dos ambientes de ensino e aprendizagem. “A sala de aula é a nossa zona de conforto, em que lidamos com o ensino. Nessas visitas, o aprendizado foi nosso, aprendemos a lidar com as pessoas. E da mesma forma que a ideia de fazer as visitas causou um pouco de resistência, alguns alunos também tiveram resistência, com isso a busca ativa foi essencial”, completa.
Sobre o ano letivo de 2020, o professor define como um ano de muitas emoções. “Foi muito gratificante. Quando a gente chega nas casas e conhece a realidade de cada aluno, é uma emoção sem tamanho. Fica uma marca positiva, que nos faz mais humanos. A exigência continua a mesma: a aprendizagem dos alunos, mas mesmo depois que passar a pandemia, no contato da sala de aula, o olhar para cada um será diferente”, aponta.
A própria diretora Floraci Gonçalves Borges trocou a sala da diretoria escolar pela visita aos estudantes. “Seja para as entregas quinzenais na zona rural ou para ir atrás daqueles que não estavam devolvendo os roteiros de estudos com as atividades resolvidas. Nós íamos até eles, fosse na cidade ou na zona rural, íamos para falarmos da importância da continuidade dos estudos. Com isso, quase não tivemos abandono. É um contato diferente, por causa dos cuidados exigidos na pandemia, mas eles sabiam que estávamos com eles”.
A diretora também fala da diversidade na rota do transporte escolar. “Nós temos o caso dos alunos que moram em uma ilha próximo ao Assentamento Fazenda Primavera, que fica a 80 km da cidade. Para chegarmos até lá, tivemos que fazer um percurso grande, de estrada de chão e atravessar de barco o Rio Araguaia. São esses desafios que nos ensinam a olhar de forma diferente para cada estudante e a cada vez mais termos a certeza de como a educação pode transformar vidas”, destaca Floraci Gonçalves Borges.
Já em Nova Rosalândia, na região central do Tocantins, a diretora do Colégio Estadual Vereador Pedro Xavier Teixeira, Lucimeire da Silva Gomes, se define, antes de tudo, como uma apaixonada pela educação. “Por esse amor pela educação, eu entendo que não existe limite para garantir que o aluno seja incluído na dinâmica do processo de ensino e aprendizagem. Tivemos alunos que mudaram de cidade e que depois voltaram, e nós continuamos acompanhando mesmo quando eles estiveram fora”, conta.
E, de fato, nem mesmo o distanciamento geográfico limitou o trabalho da equipe do Colégio Estadual Vereador Pedro Xavier Teixeira. “Como o ensino é não presencial, nossa referência de contato com os estudantes é a entrega dos roteiros de estudos e o recebimento das atividades realizadas. Mesmo antes da recomendação da Seduc, para fazermos esse trabalho de busca ativa, eu já estava acompanhando a entrega dos roteiros”, lembra Lucimeire da Silva Gomes.
Ainda conforme a diretora, o acompanhamento também se dava por meio dos mais variados meios de comunicação. “Contato telefônico, mensagens de WhatsApp, mensagem do Facebook, nenhum estudante ficou desassistido porque sempre dávamos um jeito de contatá-los. Dos nossos 288 estudantes matriculados, no ensino fundamental e ensino médio, incluindo Educação de Jovens e Adultos, 23 precisaram da busca ativa. Desses, apenas um, do ensino fundamental, que não conseguimos trazer para o processo educacional”, frisa.
Em todo o Tocantins, para além das unidades de ensino citadas, o trabalho de busca ativa se desenvolveu com a participação de toda a equipe escolar, tendo à frente os gestores das unidades de ensino, coordenadores pedagógicos e orientadores educacionais, o que garantiu a continuidade das atividades educacionais em toda a rede de ensino, assim como auxiliou os estudantes que tiveram alguma dificuldade de adequação ao ensino não presencial.