Elaborada com base em uma pesquisa iniciada no ano passado, a lista é uma iniciativa do projeto Rota do Escravo: Resistência, Herança e Liberdade, criado em 1994 pela Organização das Nações Unidas para Educação, Ciência e Cultura (Unesco).
Com uma programação de oito filmes, o festival é uma mostra itinerante realizada anualmente em mais de dez cidades, de três continentes. O evento é organizado por uma rede internacional de pesquisa, da qual fazem parte as universidades de York e Laval, do Canadá, a École de Hautes Études em Sciences Sociales e o Centre National de la Recherche Scientifique, da França, e o Laboratório de História Oral e Imagem, da Universidade Federal Fluminense (UFF), do Brasil.
Um dos destaques da mostra, que tem curadoria das historiadoras Hebe Mattos e Martha Abreu, é o filme Os Escravos de Ontem, Democracia e Etnicidade no Benin, ganhador do prêmio do júri da edição festival realizada no ano passado no Museu do Quai Branly, em Paris. Também será lançada a caixa de DVDs Passados Presentes, com quatro filmes de pesquisa realizados com descendentes de escravizados das antigas áreas cafeeiras do Vale do Paraíba, no sul fluminense.
Convidado do evento, o fotógrafo e antropólogo Milton Guran, representante brasileiro no Comitê Científico do projeto Rota do Escravo, fará a apresentação dos locais de memória, escolhidos pelo laboratório da UFF a partir de contribuições não só de acadêmicos, mas também de representantes da sociedade civil vinculados às diversas manifestações da cultura afrobrasileira.
“São os portos de desembarque, os mercados de escravos, as irmandades fundadas por africanos no Brasil, que tiveram um papel fundamental no diálogo da massa escravizada com o poder político da época e na busca pela compra da liberdade, os quilombos e algumas manifestações culturais que foram efetivamente fundadas por africanos depois de chegarem ao Brasil”, explica Guran. “Não se trata de toda a cultura afrobrasileira, mas daqueles lugares que marcam a ação do tráfico e as estratégias iniciais daqueles africanos que chegaram ao Brasil”, esclarece o antropólogo.
De acordo com Guran, a intenção do projeto é que os lugares de memória sejam reconhecidos pelos seus respectivos municípios, com pelo menos uma placa sinalizando o local. “Nós consideramos como o mais emblemático lugar de memória do tráfico no Brasil e nas Américas o Cais do Valongo, na zona portuária do Rio. Lá, funcionou o maior porto de entrada de escravos africanos das Américas”, destaca.
Para o antropólogo, as obras de revitalização da zona portuária carioca, o chamado Porto Maravilha, vão proporcionar, pela primeira vez na história, a devida proteção aos locais de memória da escravidão. “O sítio arqueológico do Cais do Valongo vai ficar, após a conclusão das obras, no meio de um grande monumento em homenagem aos afrodescendentes do Brasil”.
Milton Guran espera que os locais da Rota do Escravo sirvam de estímulo para o turismo de memória. “A Unesco identificou, a nível planetário, um movimento importante, por parte dos afrodescendentes, de buscar as referências. E isto tende a aumentar, na medida em que hoje temos uma classe média de descendência africana bastante significativa. No Brasil nem tanto, mas nos Estados Unidos, onde as políticas afirmativas já existem há décadas, muitos afroamericanos preferem conhecer um lugar ligado à sua origem do que visitar Florença, Veneza ou Paris”, afirma.
(Agência Brasil)