A comissão de Direitos Humanos da Organização das Nações Unidas emitiu uma nota de pesar, lamentando a morte do jornalista maranhense Décio Sá, na última segunda-feira (23), em São Luís. A declaração é da da alta comissária para os Direitos Humanos da ONU, Navi Pillay. Na nota, a entidade lamenta a morte de Décio Sá e disse que o órgão está "alarmado" com a morte de mais um jornalista no Brasil.
O trecho a seguir foi enviado pelo seu porta-voz, Ruper Colville:
Estamos alarmados pela morte de mais um jornalista no Brasil, elevando para, pelo menos quatro, o número de jornalistas assassinados no país até agora. Décio Sá, um jornalista investigativo na política local, denunciava a corrupção e o crime organizado, foi morto a tiros em um bar em Segunda, 23 de Abril. Nós condenamos seu assassinato e estamos preocupados com o que parece ser uma tendência de assassinatos de jornalistas, o que prejudica o exercício da liberdade de expressão no Brasil.
Congratulamo-nos com o fato de que as autoridades estaduais se comprometeram a realizar uma investigação completa para este e outros casos semelhantes. Esperamos que esses casos sejam tratados como uma grande prioridade para que os autores não sejam encorajados pela falta de prestação de contas vigente para tais crimes. Ao mesmo tempo, instamos o governo a implementar, de imediato, medidas de proteção para evitar quaisquer outros incidentes do tipo.
Um projeto de lei apresentado ao Congresso, em 2011, ordenando as investigações da polícia em crimes contra os jornalistas sejam realizadas a nível Federal, seria um passo na direção certa. Esperamos que esta e outras medidas para proteger os jornalistas sejam adotadas como um assunto de urgência.
Irmã de Décio Sá divulga carta clamando por justiça
A professora Vilenir Sá divulgou ontem uma carta aberta posicionando-se em tom de revolta ao assassinato de seu irmão, o jornalista Décio Sá, executado com seis tiros na segunda-feira (23) no Bar Estrela do Mar, na Avenida Litorânea.
Com um forte apelo social, a professora faz um angustiante relato do sofrimento em razão da perda de um ente querido em um ato bárbaro. Ela cobrou firmemente um posicionamento empenhado do Poder Público não apenas para a solução do crime que envolveu seu irmão, mas para toda a situação de violência na sociedade brasileira. Em sua carta, Vilenir Sá defende o irmão como um homem que atuava na manutenção de um estado democrático.
“Décio Sá, homem de coragem, que aprendeu na sua infância o respeito, a igualdade, a fé e o amor, educação fundamentada nos ideais de Jesus Cristo e da democracia, está morto, porque relatou tudo o que precisava ser banido de uma sociedade”, escreveu ela, que contou ter encontrado na escrita do texto um consolo para as últimas noites que tem passado em branco.
A professora Vilenir Sá descreveu o jornalista como um lutador, que buscou estudar, dedicou-se à família, sempre estudando, no colégio e na universidade.
“Não desejo que ele seja lembrado como mais um que deu a vida por um ideal, mas como alguém que, como muitos, construiu e faz a história ser de todos”, declarou a irmã de Décio Sá, que conclamou jornalistas, educadores, governantes a buscar garantir o direto da vida, em uma sociedade democrática e livre".
Decretado sigilo nas investigações sobre a morte de jornalista
Secretário de Segurança afirmou que investigação segue em sigilo absoluto. Aluísio Mendes disse que a polícia está se aproximando do executor do crime.
O secretário de Segurança Pública do Estado do Maranhão, Aluísio Mendes, afirmou que, a partir de agora, não serão mais divulgadas informações acerca do andamento das investigações, e que toda a operação segue em sigilo absoluto. A coletiva ocorreu na manhã desta sexta-feira (27). " A polícia compreende a grande vontade dos profissionais da imprensa na busca de informações sobre o caso, mas só iremos divulgar alguma informação assim que tivermos algo concreto. Qualquer informação desencontrada pode atrapalhar a nossa investigação. Quem executou o jornalista Décio Sá é arquivo vivo. O mandante do crime sabe que, quanto mais nos aproximamos do executor, mais perto estaremos dele. Nossa preocupação não é esconder informações da imprensa, mas sim, garantir a integridade deste que pode nos levar ao mandante deste crime bárbaro", enfatizou o secretário.
Aluísio Mendes afirmou que Décio Sá não foi atraído para o local da execução. " Décio Sá estava cumprindo uma rotina. Os familiares confirmam que ele ia constantemente àquele bar. O executor e o mandante sabiam disso. O assassino chegou ao bar junto com Décio Sá. A dinâmica do crime foi meticulosamente planejada. Esse não foi um crime planejado em 24 horas, a rota de fuga já estava traçada e eles evitaram contato com a viatura que estava fazendo a ronda no horário. Temos mais pessoas envolvidas nesse assassinato, e vamos chegar à todas elas," finalizou o secretário.
O secretário falou, também, sobre os indícios que estão sendo analisados pela equipe que investiga o caso." Essa é uma investigação extremamente complexa. Cerca de 22 mil e 700 itens estão sendo analisados pela Polícia Civil e técnica. Contamos com a ajuda da Polícia Federal e agora com a ajuda de toda a equipe da Seic na elucidação deste caso", afirmou o secretário.
O secretário pediu a colaboração da imprensa e das pessoas que testemunharam o assassinato." Peço a colaboração da imprensa e a paciência de todos. Esse é um quebra-cabeça complexo, e precisamos de tempo para analisar de forma profissional todos os dados. Peço também a colaboração daquelas pessoas que estavam no bar no dia do assassinato. Essas pessoas precisam falar, precisamos ouvir todas elas, pois ainda existem divergências em relação à dinâmica dentro do bar. A polícia já tem detalhada toda a dinâmica da execução e da fuga, mas precisamos afinar esses detalhes sobre o que aconteceu dentro do bar. Então, peço que essas pessoas falem, a identidade delas será mantida em sigilo absoluto," finalizou.
Sobre o caso
O jornalista Décio Sá foi morto a tiros por volta de 22h40, em um bar da Avenida Litorânea. De acordo com testemunhas, os suspeitos chegaram em uma motocicleta, executaram o jornalista e fugiram do local.
Em menos de duas horas, a polícia encontrou o cartucho da arma que teria sido utilizada no crime. A peça passou nesta quarta-feira (25) por uma análise química, que permitirá um resultado mais preciso sobre as impressões digitais do assassino do jornalista Décio Sá.
Qualquer informação sobre os assassinos do jornalista pode ser passada ao Disque-Denúncia, pelos telefones 3223-5800, na capital, e 0300 313 5800, no interior do Estado. Não é necessário se identificar.
G1/MA e Jornal Pequeno