Embora tenha somente 26 anos, Alessandra França já conviveu com muitos amigos e parentes que criaram projetos ambiciosos, mas não conseguiram aprovação de crédito.
O Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) estima que cerca de 40% dos brasileiros não possuem contas bancárias. Foi daí que surgiu a idéia da fundação do Banco Pérola, uma Organização da Sociedade Civil de Interesse Público (Oscip), ou seja, embora trabalhe oferecendo crédito, não visa ao lucro.
O objetivo do Banco Pérola é o desenvolvimento social, dando acesso a crédito a jovens empreendedores, de18 a35 anos, que não conseguiriam empréstimo devido à exigência de condições e de garantias dos bancos tradicionais.
A empresa deu início a suas operações há dois anos mediante um contrato com a Caixa Econômica Federal, pelo qual obtém crédito e repassa a seus clientes. Neste mês, firmou um acordo com o Bradesco, e com a ampliação das fontes de captação, sua meta é expandir.
"Estávamos com medo de crescer e não poder atender a demanda. Mas agora já sabemos que dá para expandir", diz Alessandra. Ela pretende ampliar o máximo possível a base de clientes do banco em 2012. Com a operação já andando com as próprias pernas, a empresa está se instalando no Tocantins.
"O Brasil na verdade são vários ‘Brasis', e queremos testar o modelo tanto no Sudeste, em Sorocaba, quanto em Palmas, que é uma cidade que tem muita carência".
O principal critério para a escolha da capital do Tocantins foi justamente a iniciativa da representante local, a empreendedora Vanessa Patrus, que ficou sabendo da existência do Banco Pérola por meio de uma reportagem em uma revista feminina, no ano passado.
Animada com o projeto, entrou em contato com a fundadora, para levar o banco para aquele estado. Com isso, a empresa enfrenta o desafio de se adaptar a uma cultura diferente. "O principal problema é que aqui as pessoas têm um costume de esperar tudo do governo", diz Vanessa.
O principal custo do Banco Pérola consiste na consultoria realizada junto aos empreendedores que solicitam o microcrédito. Os agentes do banco os visitam uma vez por mês.
Acompanhando de perto os negócios, além de garantir que o crédito seja empregado da maneira correta, eles minimizam o risco do investimento.
Alessandra aponta que a falta de mecanismos para analisar o risco é a principal barreira dos bancos tradicionais para conceder microcrédito. "No modelo tradicional dos bancos, esse cliente simplesmente não seria aprovado", diz Alessandra. "Analisar comportamento e caráter não é quesito dos bancos tradicionais".
Estrutura
Na condição de Organização da Sociedade Civil de Interesse Público (Oscip), o Banc o Pérola tem registro no Ministério do Trabalho. Com a expansão dos negócios, o próximo passo é obter o registro de Sociedade de Crédito ao Microempreendedor (SCM) no Banco Central. Com esse status, poderia aumentar o financiamento, e oferecer novos produtos.
Conforme o projeto ganhou força, além do surgimento de novos parceiros, como Vanessa, Alessandra também passou a receber propostas indecorosas.
Ela relata que foi abordada por um político local, que ofereceu uma mesada em troca de assumir a diretoria do banco e transformá-lo em captador de votos entre eleitores de classes mais baixas.
"Educadamente recusei e expliquei que estávamos buscando outros tipos de parceria", diz.
Outra proposta que Alessandra recusou foi a de turbinar a captação com fontes alternativas, como doações de pessoas religiosas. Além disso, já foi convidada para assumir cargos em instituições financeiras, na área de microcrédito - proposta que considera absurda. "Não é isso o que eu busco, não é o meu sonho. O que me motiva é ver essas pessoas se desenvolvendo."
A empreendedora se espelhou no Grameen Bank, de Bangladesh, criado em 1983 pelo prêmio Nobel da Paz, Muhammad Yunus. Para a realidade brasileira, a fundadora realizou adaptações. "O Grameen Bank é focado em crédito para mulheres. Mas aqui são os jovens a força mais dinâmica."
Fonte: Felipe Peroni/Brasileconomico.com.br