Umidade é ambiente propício para o mosquito transmissor do calazar; somente neste ano, segundo a sesau, 15 pessoas morreram vítimas da doença.
Além da dengue, outra doença volta a preocupar com a intensificação das chuvas. É a leishmaniose visceral, ou calazar, que só este ano já matou 15 pessoas no Tocantins. Segundo a Secretaria de Estado da Saúde (Sesau), até o início desse mês foram registrados 238 casos da doença em humanos. A cidade com mais ocorrências é Araguaína, com 112, que corresponde a 47% dos casos.
Em Palmas, um homem morreu nesta ultima sexta-feira (7), vítima da doença. O motorista João Luís Borges Nogueira, de 49 anos, de Porto Nacional, teve os primeiros sinais de calazar em julho deste ano. Segundo Geraldo Borges Nogueira, irmão de João Luís, ele havia ficado dez dias internado no Hospital Geral de Palmas (HGP) e, após esse período, recebia o medicamento nas unidades de saúde. Há quatro dias os sintomas reapareceram e o motorista voltou ao HGP, onde ficou por dois dias, até ser levado à UTI do Hospital Osvaldo Cruz. João Luís faleceu na noite de quinta-feira (6). O motorista, que trabalhava na Organização Comsaúde, foi enterrado no final da tarde de ontem, em Porto Nacional. Ele era irmão do presidente regional do PT, Donizete Nogueira.
O professor Jubio Paulo Pereira, 26 anos, também luta contra a doença. Ele está internado no HGP desde o começo desta semana, após ter passado mal em casa. Pereira, morador da 1.304 Sul, em Palmas, conta que vinha se sentindo mal há cerca de um mês e chegou a perder oito quilos. "Nos últimos dias os sintomas pioraram e comecei a sentir fraqueza, muita fraqueza muscular. Depois de passar muito mal procurei atendimento médico novamente e depois de vários exames foi constatado o calazar", contou. Segundo Pereira, inicialmente, os médicos chegaram a suspeitar de que ele estivesse com hepatite.
Tratamento
Para o clínico com especialidade em medicina tropical Alexandre Janotti, que também faz parte da equipe de infectologia do HGP e atendeu o caso de João Luís, o caso do motorista não é dos mais comuns. "O índice de cura do calazar, quando tratado precocemente, é de 95%. Embora o paciente tivesse boa saúde, a reincidência da doença foi forte, e algum fator genético pode ter agravado o caso", explicou. "O João Luís passou pelos três procedimentos recomendados pelo Ministério da Saúde", disse o médico.
Leishmaniose
O calazar é uma doença infecciosa e não contagiosa, causada por um protozoário Tripanosoma, que se aloja nos vetores, insetos conhecidos como mosquito-palha, que transmite ao homem e a animais, especialmente cães, através da picada da fêmea. A população do mosquito, que tem hábitos vespertinos e noturnos, aumenta consideravelmente durante o período chuvoso. Em seres humanos, o parasita pode ficar incubado por um período que varia entre dez dias e 24 meses. A doença se manifesta através de febre persistente, emagrecimento e aumento do volume abdominal, causado pelo alojamento do protozoário no fígado e no baço. O tratamento recomendado pelo Sistema Único de Saúde (SUS) utiliza medicamentos à base de antimônio. Janotti explica que a escolha inicial é o Glucantime®. "É a primeira opção no caso de pacientes com menos de 50 anos. Para indivíduos mais velhos, utiliza-se a anfotericina B, que é mais eficaz, mas pode apresentar efeitos colaterais. Nesse caso, o mais adequado é a anfotericina B lipossomal", diz. Segundo o médico, mesmo que o paciente apresente cura clínica de doenças parasitológicas, como o calazar, a cura definitiva é imprevisível. "Em alguns casos a doença pode voltar a se manifestar. Geralmente isso ocorre em até um ano após a primeira manifestação. O desaparecimento dos sintomas não significa que o parasita não esteja mais lá", explicou.
Prevenção
A prevenção do calazar é semelhante à da dengue. Entre as medidas recomendadas pelo Ministério da Saúde estão: redução do contato com o agente transmissor sejam eles o mosquito-palha ou cães contaminados, além de cuidados com a higiene do ambiente doméstico e alojamento de animais de estimação.
Mariana Reis/JT