Zezinho Atrapalhado foi escolhido presidente da Câmara de Sertãzoinho (SP).
Um vereador eleito para o sétimo mandato em Sertãozinho (333 km de São Paulo) é um exemplo de superação. Até os nove anos de idade, Rogério Magrini dos Santos, 45, não falava nem andava. Ele vivia num carrinho de bebê e era cuidado por alguns dos sete irmãos enquanto a mãe ia trabalhar na colheita da cana. A família, segundo ele, vivia numa casa de apenas um cômodo.
As limitações de fala e locomoção de Santos, porém, começaram a ser vencidas depois que ele foi matriculado na APAE (Associação dos Pais e Amigos dos Excepcionais), aos sete anos. Dois anos depois, graças a sessões de fonoaudiologia, passou a falar e, aos dez anos, a caminhar.
Nas ruas, porém, Santos passou a ser alvo de preconceito. "Os meninos me chamavam de bobo, louco, doido. Aí eu chorava e ia contar para a minha professora da APAE. Ela me dizia que ninguém é melhor do que ninguém e que eu deveria acreditar em mim e vencer. Foi o que aconteceu."
Dessa época veio o apelido de "Zezinho Atrapalhado", que, nas disputas eleitorais, acabou rendendo a Santos as maiores votações para a Câmara de Sertãozinho nos últimos 27 anos. Ele afirma que não se chateia mais quando é chamado pelo apelido. "Eu gosto, acho carinhoso. Hoje é o meu nome artístico", afirma.
Além de vereador pelo PTB, Zezinho Atrapalhado é humorista e costuma fazer de três a quatro shows por mês vestido de palhaço. No último, realizado em Bebedouro (381 km de São Paulo), afirma ter atraído 15 mil crianças.
Corte nos gastos
Se nos palcos o artista Zezinho Atrapalhado procura agradar a plateia, na Câmara de Sertãozinho o vereador, que é presidente da Casa, pretende fazer o oposto. A palavra de ordem do ex-estudante da Apae é cortar gastos.
"Ontem mesmo já demiti 22 pessoas. Foi uma choradeira, e eu chorei junto com as pessoas. Mas acho que o dinheiro público é para fazer escola e creches e não para gastos desnecessários. Também devolvi a máquina de café, que custava R$ 3.000 por mês, e já estou negociando o aluguel do prédio da Câmara."
Zezinho Atrapalhado afirma que fez voto de pobreza aos 14 anos. Ele se casou com separação de bens com uma "mulher rica", que herdou fazenda, e tem uma filha adolescente. "Eu tenho apenas um carro básico e um salário de R$ 7.800 de vereador. Não preciso de nada mais do que isso." Para se eleger vereador, Zezinho Atrapalhado afirma não fazer gastos e apenas usar a experiência de garoto-propaganda, uma de suas primeiras profissões. Os votos são pedidos mediante panfletos e uma bicicleta equipada com um aparelho de som.
uol/noticias