De acordo com números do Ministério da Saúde, com base no Sistema de Informações sobre a Mortalidade (SIM), a média oficial de crimes contra mulheres no Pará cresceu 256% nos últimos dez anos – pulou de 63 casos em 2000 para 226 em 2010. Enquanto isso, a população feminina do Estado teve incremento de apenas 23% no mesmo período, ou seja, a velocidade de mortes entre as mulheres paraenses é 11 vezes maior que a taxa de incremento populacional. Teoricamente, é 11 vezes mais “fácil” de uma mulher ser morta no Pará do que chegar ao Estado ou nele nascer.
No ano passado, foram registrados 131 homicídios femininos no interior e 95 na Região Metropolitana de Belém (RMB), o equivalente a uma mulher assassinada a cada 36 horas. Para se ter idéia do crescimento assombroso da violência no Estado, basta-se comparar a situação paraense com a de Alagoas, segundo colocado na lista e que, no mesmo período, cresceu 104% nesse mesmo tipo de violência – menos da metade do pulo do Pará.
Os próprios números da Secretaria de Estado de Segurança Pública (Segup) apontam: a violência contra a mulher cresce. Nos primeiros três meses deste ano, foram registradas 46 mortes violentas de mulheres, 30 no interior e 16 na RMB.
Esta semana, o Instituto Sangari divulga o caderno complementar sobre Homicídios Femininos no Brasil do Mapa da Violência 2011, onde quatro municípios do Pará aparecem entre as trinta regiões brasileiras com a maior incidência de assassinatos femininos, média superior de dez mortes a cada grupo de 100 mil mulheres, considerado pela Organização Mundial da Saúde (OMS), como epidemia.
O município de Tailândia, cuja sede fica a282 quilômetrosde Marabá, apontado em 2010 como campeão de casos no Brasil, aparece agora como o 25º do país, e o terceiro do Pará. Lá, que possui 38.308 mulheres, segundo o Censo 2010 do IBGE, a média de homicídios contra mulheres é de 11,9 para cada grupo de 100 mil. Segundo os responsáveis pelo estudo, a diferença se deve à nova metodologia que avalia a proporção de mulheres mortas pela população feminina de cada município.
No novo levantamento, Tucuruí, cuja sede está a228 quilômetrosde Marabá, é o município mais violento para mulheres no Estado, com média de 13,1 homicídios para cada 100 mil mulheres, o que lhe dá a 17ª posição no ranking nacional. Foram quatro mortes violentas em 2006, outras quatro em 2007 e seis em 2008. Lá, a população feminina é de 48.728 habitantes.
MARABÁ
A maior cidade do sudeste paraense e o quarto município mais populoso do Estado, com 233.462 habitantes, é também um dos primeiros quando o assunto é violência. Para as 115.314 pessoas do sexo feminino residentes no município, qualquer movimento suspeito pode ser perigoso.
Isso porque Marabá é a segunda a figurar no ranking da violência contra a mulher paraense, já que, conforme o Mapa da Violência 2011, entre 2006 e 2008, uma média de 12,1 mulheres foram assassinadas em cada grupo de 100 mil. Em nível de Brasil, numa extensão de 5.564 municípios, Marabá aparece no desonroso 21º lugar – muito perto do topo, uma lástima, mesmo considerando-se os anos de defasagem da pesquisa.
Em Marabá, assim como em qualquer outro lugar onde a violência faça das mulheres vítimas, morre-se das piores maneiras possíveis. São facadas, tiros, pedradas, pauladas, golpes de foice e de machado ou estrangulamentos que sepultam elas a qualquer tempo. E os autores desses crimes bárbaros muitas vezes são pessoas de quem menos se espera praticá-los (irmão, pai, marido, filho) ou criminosos natos (traficantes, tarados, aliciadores, pistoleiros).
De acordo com a diretora nacional pelo Enfrentamento à Violência contra a Mulher, Ane Cruz, da Secretaria de Políticas para as Mulheres (SPM), o governo esforça-se para reverter o crescimento do número de casos, mas, ainda de acordo com ela, a grande barreira é vencer o preconceito que torna a mulher como propriedade do homem. “A violência contra a mulher não é uma mera questão de segurança pública, é muito maior e só pode ser resolvida por meio de políticas estruturantes, na educação, na cultura, no acesso à justiça”, observa Ane.
“Por mais que invistamos em construção de delegacia, de centro de referência, de abrigo; por mais que implementemos a Lei Maria da Penha, temos de enfrentar uma questão que ainda é muito forte no Brasil, que se chama machismo e o patriarcado”, destaca a porta-voz da SPM.
Fonte: CT On-line e O Liberal