Repórteres, cinegrafistas e redatores de jornais impressos, e emissoras de televisão de Imperatriz foram convidados a deixar a sala onde o Governo do Estado, a Prefeitura de Imperatriz, Corpo de Bombeiros e representantes do Ministério Público discutiram na manhã desta quarta-feira (18) as conseqüências da cheia inesperada do Rio Tocantins que no dia 8 de janeiro desabrigou 300 famílias e provocou a perda de móveis, eletrodomésticos e mercadorias.
A reunião, que durou duas horas, aconteceu no auditório da Casa Brasil, ao lado da Prefeitura de Imperatriz, e só começou depois que o secretário de Comunicação de Imperatriz, Elson Araújo, solicitou que os jornalistas se retirassem da sala a pedido do engenheiro Dimas Maintinguer, do escritório do Ceste no Rio de Janeiro. Ao chegar ao local da reunião e deparar com jornalistas, Dimas teria dito que o combinado era uma reunião de trabalho e que não estava disposto a conversar com a imprensa. O diretor do Ceste foi levado pelo Superintendente da Defesa Civil de Imperatriz, Francisco das Chagas, e isolado em sala diferente até que os jornalistas deixassem o ambiente reservado para a reunião.
A insatisfação dos jornalistas se deu por dois motivos: além de serem impedidos de acompanhar e tornar público a situação que é de interesse da sociedade, foram excluídos da agenda um dia depois de terem sido convidados para o encontro pela própria Defesa Civil de Imperatriz.
A reunião foi exigida pela governadora Roseana Sarney três dias após a inundação provocada pela abertura de comportas da Usina Hidrelétrica de Estreito, que provocou, também, desencontro de informações entre a Defesa Civil municipal e o Consórcio Estreito Energia. Diante do caos, o município de Imperatriz afirmava não ter recebido a informação sobre o aumento na vazão do Rio Tocantins a tempo de retirar as famílias da área de riscos, e o Ceste rebatia garantindo ter avisado pelo menos cinco vezes antes da noite do sábado, 07 de janeiro, véspera do acontecimento da enchente.
Antes do pedido de retirada, o Correio Popular conversou com Francisco das Chagas sobre o que seria tratado no encontro. O chefe da Defesa Civil informou que no evento aconteceria a apresentação de um plano de ação da hidrelétrica de Estreito “para que a gente possa conhecer a estrutura e maquinário da hidrelétrica para evitar transtornos que outrora aconteceram”. Antes de ser interrogado se haveria discussão sobre os prejuízos sofridos pelos ribeirinhos, Francisco foi claro: “(...) o que aconteceu passou. Nós agora vamos trabalhar pra evitar e pra ter realmente um saldo positivo”.
O coordenador da Defesa Civil Estadual, Coronel Robério, falou que a reunião foi a terceira que aconteceu para definir estratégias e evitar transtornos causados pelas enchentes no Rio Tocantins, em Imperatriz e região. “Vamos trabalhar integrados, o Consórcio, o município, o Estado, e vamos ver como proceder daqui para frente” disse.
Após duas horas de espera, o Correio Popular foi informado do que ocorreu na reunião secreta. “Foi importante, foi uma reunião de trabalho entre o Ceste, a prefeitura e os órgãos envolvidos. Vai ajudar muito o trabalho da Defesa Civil e do Corpo de Bombeiros com aquelas famílias. (...) Foi apresentado o plano de trabalho, vamos fazer os ajustes para fazer o trabalho e termos um êxito ainda maior para não voltar a ter a repetição do que aconteceu. O mais importante é isso: não acontecer o que aconteceu no ultimo dia 08 (...)”, disse Francisco das Chagas ao explicar absolutamente nada.
Por volta das 12h10, os representantes do Ceste se reuniram com o prefeito Sebastião Madeira no gabinete do chefe do Executivo Municipal para discutir os prejuízos dos ribeirinhos, mas até o final da produção dessa matéria não recebemos informações sobre o resultado da conversa.
Da mesma forma, a imprensa de Imperatriz não conseguiu apurar se, na reunião com a presença das defesas civis do município e do Estado, Ministério Público Estadual e Federal, defensores públicos, prefeito, Marinha, Bombeiros e secretários do governo Madeira, alguém questionou sobre os prejuízos do dia 8 de janeiro.
AIRT Condena Tratamento Dado a Jornalistas
O presidente da Associação de Imprensa da Região Tocantina – AIRT, Ozias Sousa Lima, vem de público protestar a forma de como foi conduzida na manhã desta quarta-feira (18), uma reunião no auditório da “Casa Brasil”. Na pauta de discussões, estava incluída a busca de soluções para os ribeirinhos desabrigados do Rio Tocantins. Participaram da reunião, representantes do Consórcio Estreito Energia - CESTE, prefeitura municipal de Imperatriz, Marinha, Defesa Civil municipal e estadual, entre outros.
O que poderia ser um momento de reconciliação com os imperatrizenses, principalmente, as pessoas prejudicadas e detentoras de prejuízos materiais e psicológicos da área ribeirinha, acabou sendo um momento de frustração para companheiros da imprensa que foram convidados para fazer a cobertura jornalística. A imprensa que tem divulgado os fatos e precisa de uma transparência maior para bem informar a sociedade, foi impedida de participar da reunião, que aconteceu a “portas fechadas” e durou quase duas horas.
Observa-se que a decisão feriu 02 (dois) princípios: O da publicidade e o da cidadania e dignidade da população humana. Poderia ser diferente. Enfim, O jornalismo é o meio de comunicação que integra, moderniza e estabelece a sociedade. A dignidade da pessoa humana é um princípio fundamental. Destaca-se como função social, com direito a defesa do meio ambiente, redução das desigualdades regionais e sociais, respeito e o tratamento por parte das entidades públicas ou privadas. É essencial a preservação da autonomia e vontade dos indivíduos, que têm o direito de obter conhecimento das causas que os afligem. Vedar o direito a informação é crime.
A AIRT é solidária aos companheiros impedidos de exercer seu papel de cidadania, em pleno exercício de suas funções e à população que tem o direito de saber as informações, o dia e a hora em que as comportas das barragens de Lajeado e Estreito haverão de ser abertas. E ainda: Em qual proporção ou gravidade pode ocasionar ao meio ambiente e aos ribeirinhos. Esses, não podem ficar a mercê da situação. Com decisões tomadas por trás de 04 (quatro) paredes. É preciso sabedoria nas decisões. Afinal, trata-se de uma concessão pública, que deve ser dirigida com dignidade, respeito e transparência.
Atenciosamente,
Ozias Sousa Lima
Presidente da Associação de Imprensa da Região Tocantina - AIRT
Por Hemerson Pinto/Jornal Correio Popular