Falta de diálogo, maus tratos e perseguição a policiais, com remoção para outras cidades, busca pela aprovação de Plano de Cargo, Carreira e Salários (PCCS) e escala abusiva de trabalho são alguns dos itens elencados pelo presidente da Associação de Cabos e Soldados do Tocantins (ACS), Geovane Alves dos Santos, como motivos para insatisfação dos policiais militares do Tocantins. Conforme ele, quando o diálogo se rompe e o Comando Geral se fecha a tendência é de que a situação piore, não descartando a possibilidade de uma paralisação no Estado.
O presidente, que representa a maior categoria da PM, cerca de 4.500 policiais dentre os 6 mil da corporação, denunciou que os militares estariam excedendo suas escalas de trabalho por determinação do Comando Geral, o que tem gerado doenças e problemas disciplinares. "Mais de 200 militares estão afastados pela Junta Médica. São problemas diversos e a maioria por excesso de trabalho e quando se reclama é removido", explicou, acrescentando que as horas trabalhadas a mais não estariam sendo pagas. "Tem policial trabalhando 24 horas e folgando 24, quando o correto seria 48 horas de folga. A carga horária é de 180 horas, mas não está sendo cumprida e as horas extras não são pagas", frisou. A origem do problema, segundo Santos, residiria na falta de efetivo, o que geraria sobrecarga de trabalho aos demais. A associação contabiliza um déficit de seis mil policiais, o que só poderá ser resolvido caso haja concurso público.
Recentemente, a Polícia Militar informou que as ocorrências de criminalidade no Estado diminuíram, o que, para Santos, não é verdade. "A criminalidade não reduziu, o que aconteceu é que faltam policiais para o registro das ocorrências. Se faltam policiais nas ruas, diminuem os atendimentos."
Manifesto
A onda de protestos em outros estados pode influenciar por aqui. O presidente da ACS considera que os militares podem ficar mais exaustados, sendo só uma questão de tempo a greve, caso não haja uma negociação entre governo e militares. "Os demais sindicatos de servidores do Estado estão brigando para que o PCCS da categoria seja respeitado, e nós que não temos ainda o PCCS? O nosso anteprojeto de lei está pronto há três anos e jamais foi apreciado", comentou. Outra preocupação da associação é quanto à possibilidade de mudanças na graduação dos militares. Membro da diretoria da associação e militar da reserva, Jan Carles Nogueira explicou que o Comando Geral estaria estudando uma forma de aumentar o tempo de promoção para oficiais, voltando os postos de 2º e 3º sargentos. "Falam em tempo mínimo em cada graduação, mas não diz o tempo máximo", criticou Nogueira, acrescentando que este é mais um motivo para insatisfação da categoria.
Comando
Em nota, a assessoria de comunicação informou que "a Polícia Militar prima pela legalidade em todas as esferas e trabalha em unidade com toda a corporação, estando aberto para discutir e buscar soluções a todos os assuntos pertinentes e ligados à melhoria da qualidade de vida pessoal e profissional do trabalhador policial militar", diz o documento.
Relembre
Em maio de2001, aPolícia Militar do Tocantins esteve em greve por 12 dias. A paralisação ganhou destaque nacional depois que o Exército foi acionado pelo governo do Estado para conter o movimento. À época, militares reivindicavam reajuste salarial de 47%, pagamento de horas extras e um plano de promoções para soldados, cabos e sargentos. Os quartéis da PM foram tomados pelos grevistas com armas, munições e equipamentos.
Josiane Mendes/JT