Não dá mais pra disfarçar. O rompimento do senador João Ribeiro (PR), com o governador Siqueira Campos, do PSDB, está se tornando inevitável. E vai desaguar em disputas e retaliações que já começaram e podem se tornar mais evidentes durante as eleições. A posição da deputada Luana Ribeiro (PR), filha do senador, assinando até CPI contra o governo, comprova a tese de rompimento que cedo ou tarde vai terminar acontecendo.
João Ribeiro, que é goiano de Ceres, mas age como um bom mineiro, tem evitado declarações de rompimento, talvez por já ter vivido experiências amargas nesta longa relação de amor e ódio com o siqueirismo. Na prática faz um grande esforço para conquistar a independência. Para o governador independência é declaração de guerra. E tome chumbo. Com Siqueira não tem meio termo. Quem não está com ele está contra ele.
Bastou o senador declarar que em Palmas tem compromisso com o prefeito Raul Filho (PT) para começar a enfrentar um verdadeiro bombardeio. Ele tem plena consciência que a mudança na tramitação do processo que responde na Justiça por “trabalho escravo”, que o surpreendeu, tem a ver com seu posicionamento político. Ele também sabe que o cerco às suas bases vai aumentar e pode dificultar a meta do PR de lançar candidatos em todos os municípios e eleger o maior número de prefeitos. O PR corre o risco de se tornar nestas eleições, em vez de aliado preferencial, principal adversário do siqueirismo.
A reforma administrativa do governo, que ainda não terminou, até aqui teve forte apelo político e a clara tendência de minar o PR do senador João Ribeiro. Em alguns casos a troca de auxiliares foi antecipada para afrontar os republicanos. Aliados do senador estão sendo jogados pela janela do governo para abrir vagas para novos aliados. O PSD, da senadora Kátia Abreu, está assumindo o espaço que vinha sendo ocupado pelo PR. O PPS, do deputado Eduardo do Dertins, também disputa uma beirinha do espólio do PR desalojado do governo.
Em Brasília, João Ribeiro tem sido ignorado em audiências importantes nos ministérios. É a maneira sutil do governador de exercer a sua liderança. A ferro e fogo. O senador João Ribeiro conhece bem a tática. Ele próprio foi vítima da truculência siqueirista. Em 90, era prefeito de Araguaína pelo PFL, que integrava a base do governo. Ameaçou apoiar o candidato da oposição e sofreu uma intervenção do Estado tendo ficado pelo menos quatro meses afastado do cargo, sem processo de acusação nem direito de defesa. Voltou ao comando da prefeitura depois de negociar apoio ao candidato governista.
Vem de longe o anseio do senador de trilhar caminho próprio, mas tem falhado no descuido em fazer o dever de casa. O senador por conveniência política tem caído no comodismo de ser comandado por Siqueira Campos em troca de mandatos legislativos. João Ribeiro é um dos senadores mais influentes junto ao Palácio do Planalto. Pertenceu ao Conselho Político da Presidência da República na era Lula e se gaba de ser amigo pessoal da presidente Dilma Rousseff. Mas tem usado pouco o seu prestígio político para se consolidar como um líder capaz de comandar um novo projeto para o Tocantins.
Em 2010 o senador foi braço direito do governo Carlos Henrique Gaguim, de quem ensaiou ser sucessor, e terminou nos braços do siqueirismo. E tem sido assim, em qualquer possibilidade de rompimento o governador tem sempre sufocado suas aspirações. Desta vez não é diferente. O governador não quer o rompimento. Sabe que perde muito, mas prefere hostilizar o republicano. Siqueira faz assim porque está cansado de saber que no final João Ribeiro volta.
A fragmentação das forças governistas parece o dado mais evidente das mudanças que as eleições municipais podem provocar no cenário político do Tocantins e que já começaram antes mesmo do processo político ter início. O rompimento do senador João Ribeiro, que cedo ou tarde vai acontecer, é prenúncio destas mudanças que as urnas devem consolidar. O senador não tem necessidade de romper agora. Seria contraproducente para o crescimento do partido. Mas o que incomoda o governo não é propriamente a possibilidade de rompimento, que deve ocorrer em 2014 em função dos planos do senador de tentar concorrer ao Palácio Araguaia, mas a postura de independência do senador.
A eleição municipal tem motivação puramente local e dificilmente reproduz com tamanha nitidez a complexidade da disputa em nível estadual. Nos municípios os nomes são mais importantes que os partidos e as alianças se fazem quase sempre em torno da partilha do poder e não propriamente de programas de governo. No entanto as eleições municipais são, de alguma forma, reflexo e fator determinante de outras disputas que vão além dos municípios. Em 2014 João Ribeiro, se tiver a coragem de romper com o siqueirismo, pode ser um dos principais protagonistas da cena política que caminha para uma renovação. Não propriamente pelo surgimento de novas lideranças ou da capacidade do eleitor de forjar nas urnas as mudanças, mas pela limpeza ética promovida pela Lei da Ficha Limpa.
Ruy Bucar/Jornal Opção