Vingança motivava homicídios em grupos adversários, apontam inquéritos. 'Esperamos que seja o fim de uma guerra', afirmou a delegada responsável.
A Polícia Civil apresentou, nesta sexta-feira (4), a conclusão de dezesseis inquéritos ligados à disputa entre as duas maiores quadrilhas de tráfico de drogas de Goiânia. De acordo com a investigação, os grupos são suspeitos de cometer aproximadamente 50 assassinatos entre si na capital. No total, 11 integrantes já foram presos e um está foragido. “Esperamos que seja o fim de uma guerra”, afirma a delegada Myriam Vidal, da Delegacia Estadual de Investigações de Homicídios (DIH).
Um grupo tinha como líder Iterley Martins de Sousa, preso no final de setembro no Ceará. A quadrilha rival era chefiada por Thiago Cézar de Souza , conhecido como “Topete”. Os dois, segundo a delegada, traficavam “de forma pacífica” nas regiões oeste e sudoeste da capital. Porém, após um homicídio envolvendo o integrante de uma das quadrilhas provocou o início da série de mortes.
“Após um dos membros do grupo de Topete ter sido morto pelo grupo do Iterley, a gente percebeu o surgimento de homicídios que se tornaram pessoais, já não era, sequer, pelos pontos de tráfico”, afirma a delegada.
A quadrilha de Iterley tinha 7 membros principais, sendo que dois deles foram mortos pelo grupo de Topete. Já este último teve 4 dos 11 integrantes assassinados pelo grupo rival.
A delegada afirma que integrantes relataram em depoimento que saiam em até três carros diferentes a procura de qualquer pessoa ligada ao grupo adversário para matar. “Estes relatos, centenas de depoimentos e laudos foram juntados aos inquéritos e a gente não tem dúvida: está muito bem provado todos os 16 casos”, afirma Myrian.
Morte de presidente de torcida
Entre os inquéritos concluídos, está a morte do presidente da torcida organizada do Goiás, Evandro Rodrigues Cavalcante, em setembro do ano passado. Segundo a delegada Myriam Vidal, Evandro traficava droga para o grupo chefiado por Iterley e foi morto por membros da quadrilha de Tiago Topete, que confessaram o crime.
Míriam Vidal disse que vai entrar com um pedido de Regime Disciplinar Diferenciado (RDD) para que os presos não tenham contato nem se comuniquem dentro do Complexo Prisional. “São definitivamente as duas organizações criminosas que mais matam em Goiânia”, afirmou a delegada.
De acordo com o delegado Murilo Gonçalves, titular da DIH, após a prisão dos líderes e principais membros das quadrilhas, houve redução de 28% nos índices de homicídios da região onde os grupos atuavam. Ele comemora o trabalho da polícia. “Estes grupos estão sem comando e a atividade deles em Goiânia já está praticamente eliminada”, reforçou.
Prisão de Iterley
Iterley foi preso pela primeira vez em 2007, com Marcelo Gomes de Oliveira, conhecido como ‘Zói Verde’ e apontado pela polícia como o maior traficante de drogas de Goiás. No ano seguinte, ambos conseguiram alvará de soltura e deixaram o Complexo Prisional de Aparecida de Goiânia.
Iterley estava foragido desde 2008. Em abril deste ano, integrantes da Delegacia Estadual de Repressão a Narcóticos (Denarc) iniciaram uma investigação direta para a captura dele.
Ele foi preso no dia 21 de setembro deste ano, em Fortaleza, no Ceará, ao ir a um centro de reabilitação buscar em uma cadeira de rodas doada para a mulher dele, que ficou paraplégica durante uma tentativa de homicídio ao casal em 2007. Com a equipe da delegacia, ele foi trazido de avião para Goiânia.
Policiais da Denarc localizaram Iterley após monitorar um dos gerentes da quadrilha que, segundo a polícia, era liderada por ele, em Goiânia. Esse suspeito não teve a identidade revelada, mas os investigadores acreditam que ele deve ser preso nos próximos dias. Cerca de dez agentes goianos estavam há 15 dias na capital cearense para definir a melhor ocasião para a prisão.
Segundo os investigadores, Iterley não resistiu à prisão e se surpreendeu por ser localizado. “Ele ficou muito assustado. Perguntou diversas vezes como conseguimos encontrá-lo. Ele disse que nunca imaginou que ia ser preso novamente”, contou o titular da Denarc.