Há oito anos, carregando debaixo do braço o clipe de uma animação musical voltada para as crianças, Juliano Prado e Marcos Luporini procuraram redes de televisão para oferecer uma série, que poderia também ser comercializada em CD e VHS. A ideia não foi bem recebida.
Com a recusa, o clipe - protagonizado por uma tal Galinha Pintadinha - foi parar em uma plataforma de vídeos online, nova e inabitada, na época, chamada YouTube. Meses depois, a produção já contava com 500 mil visualizações.
O número inesperado mostrou à dupla - criadora do maior fenômeno voltado para o público infantil dos últimos anos no Brasil - que a trilha para o sucesso não seguiria o modelo de negócios tradicional. 'Como o projeto era para TV, havia a ideia de segurar o conteúdo, de não espalhar. Sem querer, descobrimos um público que só surgiu porque o material estava liberado na rede', diz Prado.
Agora, o canal oficial no YouTube da Galinha Pintadinha se prepara para bater a marca de 1 bilhão de visualizações - somando todos os vídeos em português. Será o primeiro a atingir a cifra no Brasil e o segundo da América Latina. A previsão é de que isso aconteça até o dia 2 de fevereiro - a contagem atual é de 983 milhões.
Os criadores da galinha azul se conheceram na época da faculdade. Juliano cursava administração e pensava em ser empreendedor. Marcos fazia publicidade, área que logo abandonaria para se dedicar à música. Em São Paulo, moraram na mesma república, montaram uma banda de samba-rock chamada Filhos de Tim (tocavam só Jorge Ben e Tim Maia), desistiram e voltaram a se encontrar em Campinas, onde criaram a Bromélia Produções, que detém a marca Galinha Pintadinha.
Comércio
A estratégia lá fora é a mesma da já testada e comprovada no Brasil. Cria-se o canal, mães e pais conectados tomam conhecimento da Galinha e a apresentam a seus filhos - o público-alvo são crianças com até três anos. É o ponto de partida para surgir demanda para todo e qualquer tipo de produto: DVDs, aplicativos, camiseta, bolsa, pantufa, fralda, papel higiênico ou piscina - com a devida supervisão de Juliano e Marcos.
São 45 vídeos online, 1,5 milhão de cópias vendidas dos três DVDs - mais um virá pela Som Livre em julho deste ano, além de um DVD em inglês a ser lançado também em 2014 -, 13 contratos fechados com canais de streaming (como Netflix e iTunes), duas produções musicais em teatros e 10 ações em shoppings. O número de empresas licenciadas passa de 50 e a quantidade de produtos bate em 600. Só no ano passado, as vendas dessa massa toda no varejo movimentaram cerca de R$ 550 milhões.
Pelos cálculos da empresa os produtos licenciados somaram 50% da receita, a outra metade é uma composição da venda de CDs, DVDs, apresentações ao vivo e YouTube. Para 2014, a previsão é de que as 'franquias' internacionais respondam por 10% deste bolo.
Os números são de saltar aos olhos, mas Juliano e Marcos não se impressionam. Os milhões, explicam, são distribuídos ao longo da cadeia. A Galinha Pintadinha toma o lugar de outros fenômenos infantis como o Xuxa Só Para Baixinhos. Mas os criadores acreditam ter uma vantagem. 'A Xuxa envelhece, a Galinha não. Somos digitais, não apenas uma mídia', diz Juliano que ri da pretensão de Marcos de tornar a Galinha tão clássica e inesquecível quanto a Turma da Mônica ou o Mickey.