A entrevista foi concedida ao Jornal Opção onde Bonifácio citou que a Assembleia Legislativa tem cometidos equívocos e que o maior deles foi a rejeição, por motivos puramente políticos, das contas dos ex-governadores peemedebistas, que ele considera uma injustiça difícil de ser reparada. “Assembleia se apequenou ao rejeitar contas de Marcelo e Gaguim”
Ele não tem papas na língua. Fala o que pensa e não teme desagradar o governo. É duro nos questionamentos à falta de autonomia da Assembleia Legislativa, que segundo ele comete equívocos irreparáveis. “Considero que a Assembleia teria uma atitude louvável na aprovação das contas dos governadores Marcelo Miranda e Carlos Gaguim, eu acho que era uma conduta de justiça com os dois ex-governadores e a Assembleia falhou, principalmente os deputados que compunham a base do PMDB,” pontua, ressaltando que no plenário atua de acordo com sua consciência e não necessariamente com os interesses do governo.
Sobre o desempenho do governo Siqueira Campos o deputado diz que compreende as dificuldades, mas lamenta a falta das grandes obras. “O governo alega muitas dificuldades, eu acredito que isso tenha passado e ainda espero alguma coisa neste ano de 2014, até porque eu estou vendo as propagandas dizendo que arrumou a casa, mas eu tenho muita saudade das grandes obras”, confessa o parlamentar, que revela que também esperava mais deste governo.
O deputado admite que esta eleição seja decidida no segundo turno, mas não bota muita fé nos candidatos empresários, que segundo ele não conhecem a realidade do povo sofrido do Estado. “Empresário não tem conhecimento de política, não conhece o sofrimento dos mais humildes, dos excluídos e a prova está aqui em Palmas, o prefeito é um empresário, o pensamento do prefeito é arrecadar, é criar cobrança de estacionamento, aumento exorbitante de IPTU, é o sentido empresarial do capitalismo selvagem que engole as classes mais humildes”, aponta o deputado, apostando numa disputa entre políticos tradicionais.
Nesta entrevista o deputado ainda falou sobre a sua ligação com a ditadura militar na condição de agente da Polícia Federal e da sua identificação com o comunismo depois de se dar conta dos excessos da “revolução gloriosa”, que segundo ele deixou feitos grandiosos, mas também muitas arbitrariedades.
O sr. defende a permanência do governador Siqueira Campos no cargo. Por quê?
Sempre defendi que o secretário Eduardo Siqueira Campos poderia ser candidato sem a renúncia do governador Siqueira Campos por uma questão de bom senso. Se o próprio governador pode disputar o cargo, porque não poderia o filho? Eu me lembro que numa eleição no Rio de Janeiro. o governador (Antony) Garotinho renunciou, mas não foi para facilitar a candidatura da sua esposa Rosa Garotinho, mas para disputar a Presidência da República. Eu não sei se existe alguma decisão judicial, mas no meu entendimento não precisaria. Agora eu não posso nomear candidato ou não, o governador Siqueira Campos tem direito à reeleição. Se ele tiver vontade de pleitear tem o partido, o PSDB, e seria muito fácil conseguir a indicação, isso depende da sua vontade, das suas condições de disputar uma eleição.
O PSDB defende a reeleição do governador com o argumento de que candidatura de Eduardo Siqueira não decolou. É mais um argumento contra a renúncia?
Eu não sei qual o pensamento do PSDB, mas é o partido do governador e naturalmente para os interesses do partido do atual mandatário seria interessante a candidatura do próprio governador. O senador Eduardo hoje é do PTB, seria uma troca e o PSDB não gostaria da troca.
Como o sr. avalia o quadro sucessório?
Ninguém tem ideia do que virá daqui até junho, até as convenções. A experiência nos mostrou que nas eleições de prefeito houve uma reviravolta muito grande nos últimos dias, inclusive uma reviravolta não assimilada pelo eleitorado que gerou até surpresas no resultado da eleição. Houve uma revoada, uma situação inusitada. Não sei quem será candidato a governador, ninguém sabe, então é preciso se ter muita cautela, estudando passo a passo a evolução da caminhada política para ver como fica.
Há muitos nomes com possibilidade de crescimento no processo, candidatos novos, com perfil de mudança. Analistas preveem que essa eleição será decidida no segundo turno, o sr. comunga dessa ideia?
Acho possível que vá para o segundo turno. Agora uma coisa para mim é certa, empresário não tem conhecimento de política, não conhece o sofrimento dos mais humildes, dos excluídos e a prova está aqui em Palmas, o prefeito é um empresário, o pensamento dele é arrecadar, criar cobrança de estacionamento, aumento exorbitante de IPTU, é o sentido empresarial do capitalismo selvagem que engole as classes mais humildes, esse senso está nos políticos. Vamos dizer, num quadro hipotético, estaria no Eduardo Siqueira Campos, Marcelo Miranda e senadora Kátia Abreu, que já têm pés calejados de andar nesse norte, no Tocantins, de comer poeira, que conhecem as linguagens do pobre e as suas necessidades. Eu fico muito temeroso de políticos empresários bem-sucedidos criados nas cortes, no bem bom, para gerenciar aquilo que não conhecem. Eu torço mais para o alinhamento aos políticos tradicionais acostumados a comer poeira e que conhecem diuturnamente o sofrimento do povo.
Pesquisas tanto a nível nacional como no Estado indicam que o eleitor está descontente com os seus representantes. Como o sr. explica essa situação, em relação ao Tocantins, onde os governos estão errando, ou os políticos estão errando?
No dia que o cidadão se conformar com o que tem ele está bom de morrer porque já cumpriu a sua missão. Se o cidadão adquire uma conquista ele tem que palmilhar novas conquistas, tem de ter ambição. O cidadão exigindo cada vez mais melhorar, antigamente não se lutava por um ventilador, hoje se luta por um ar-condicionado e essa é a razão de viver do ser humano. Ele tem que sempre ir substituindo as conquistas por novas ambições para que a vida melhore.
Qual sua avaliação do governo Siqueira Campos, ao qual há um sentimento de cobrança que não correspondeu à expectativa?
O governo alega muitas dificuldades, eu acredito que isso tenha passado e ainda espero alguma coisa neste ano de 2014, até porque eu estou vendo as propagandas dizendo que arrumou a casa, mas eu tenho muita saudade das grandes obras, não sei se é aquele sentimento juscelinista de 50 anos em 5, como eu gostaria de ver grandes obras.
O sr. critica a falta de autonomia do Legislativo que se deixa influenciar pelo Executivo. Este é um equívoco do Parlamento?
Eu não sei se é o costume do Legislativo de se apequenar. Fiz um elogio à Câmara Municipal de Palmas, até criticando a nossa postura na aprovação do orçamento impositivo, que é o grande reforço na atividade parlamentar, aliás é a independência, a liberdade, a força do parlamentar para com seus munícipes, e de repente eles aceitaram um veto do prefeito e acabaram com o orçamento impositivo e se apequenaram. Mas é até bom a gente ver que o Congresso Nacional tem reagido à grande força política do PT e do governo, e ter aprovado o orçamento impositivo. Se nós não ganhamos no ano passado vamos ganhar neste ano, eu acho que não existirá força nenhuma possível para empatar o orçamento impositivo. Nós somos 24 deputados, diversos interesses, muitas lutas por interesses pessoais, por privilégios que às vezes sacrificam os interesses e privilégios que poderiam ser distribuídos ao povo, mas esse pensamento vai mudando aos poucos, a consciência vai chegando e uma hora ela deságua para agradar o cidadão. Esse governo e esta Assembleia têm propiciado muitas conquistas. Considero uma dessas grandes conquistas, não só do Legislativo, mas do próprio Executivo, a solução dos remanescentes de Goiás, que perduravam desde que o Estado foi criado. Corrigimos esta injustiça. A atuação do Legislativo nestes três anos não foi em vão e considero que a Assembleia teria uma atitude louvável na aprovação das contas dos governadores Marcelo Miranda e Carlos Gaguim, seria uma conduta de justiça com eles e a Assembleia falhou, principalmente os deputados que compunham a base do PMDB. Foi um erro da Assembleia que tem cometido outros erros. Felizmente, tem tido muito mais acertos que erros.
Foi uma votação direcionada por interesses eleitoreiros acima dos interesses da sociedade, tendo em vista que manter essas contas sem aprovação é apenas uma barganha eleitoral para impedir que Marcelo Miranda seja candidato? A quem interessa isso?
Eu fiquei surpreso ao ver que de política eu entendo muito pouco, uma aberração, uma surpresa violenta, ainda mais quando a própria base dos ex-governadores os derrotou. Eu fiquei embasbacado, a Assembleia naquele momento se apequenou.
O sr. é um dos poucos deputados do governo que não tem medo de dizer o que pensa nem de votar contra o Executivo. Não recebe retaliações em função da sua posição, como outros que reclamaram de patrulhamento?
Eu não sei, mas pelo menos me dá a tranquilidade da minha consciência. Gosto de votar de acordo com a minha consciência, nunca barganhei nada, nunca pedi nenhum benefício pessoal e tenho tentado ser independente. Voto no governo, sou aliado do governo, admiro o governador Siqueira Campos não só pela sua história, mas pela sua tenacidade. Acho que o Tocantins todo deve reverenciá-lo, mas gosto de votar com a minha consciência e não gosto de fazer injustiça. Eu sei que quando você pensa assim pode ser mal compreendido, ou considerado independente, contrário, rebelde, eu acho que o governo está exercitando o seu labor e nós exercitamos o nosso, mas eu não acredito que o cidadão tenha que ser manobrado, teleguiado e que não tenha vontades. É preciso, por exemplo, se o governo pensa de um jeito e eu penso de outro tenho, que seguir o meu pensamento não é desafio ao governo, mas é seguir a minha consciência. Às vezes o governo não é o dono da verdade, nenhum ser humano é o dono da verdade, às vezes o governo pode estar errado e eu posso estar certo, mas se estiver errado e foi a minha consciência que ditou, devo segui-la. E acho que sempre fui respeitado.
O sr. é contra a denominação de Girassol para a escola de tempo integral, projeto que tramita na Assembleia Legislativa e gera polêmica. O governo não perde muito tempo se preocupando com assuntos menores?
É assunto tão pequeno que nem deveria ser polêmico. Girassol não acrescenta nada, ou acrescenta? Acho que poderia se discutir o nome, mas a própria escola, a qualidade do ensino. Nunca fui totalmente a favor de escola de tempo integral, Eu sou mais da escola tradicional, onde os filhos estudam um período e no outro ficam com suas famílias.
Qual é o seu projeto para 2014?
Possivelmente a reeleição. Fui vereador, muito combativo. Um dia eu cheguei a um advogado, meu compadre hoje, e queria que ele votasse em mim para prefeito, ele disse que não votava em mim para prefeito, mas para o Legislativo, porque achava que eu seria bom ali. Quebrei a cara dele, porque segundo o que está escrito eu fui o maior prefeito dos últimos 50 anos daquele município, mas voltei ao Legislativo e se eu não me engrandeci pelo menos me realizei aqui no Parlamento, nos embates. Embates muito duros, mas não guardo rancor de ninguém, a gente tem que ter o dom do perdão, saber perdoar os excessos dos companheiros, e eles perdoarem os da gente. O ser humano não é perfeito, pode ser prefeito, mas perfeito não é. Eu me realizei aqui nesse mandato com grande alegria e satisfação.
O sr. diz que quanto mais o tempo passa mais fica comunista, uma trajetória diferente de muitos militantes que na juventude eram comunistas e depois viraram capitalistas, como o sr. explica esta inversão?
Interessante, eu fiz uma administração que está mais para o comunismo do que para o capitalismo. Fiz milhares de casas populares, coloquei energia em todas as propriedades rurais, calçadas, banheiros, milhares de banheiros, calçamento de estradas de concreto, tentei atingir o cidadão no seu eu. Fiz de um benefício particular um benefício coletivo. A minha criação é na revolução. Eu fui policial federal ainda nos anos 70, tive adolescência, juventude e início de vida pública no que chamavam ditadura e nós chamávamos de revolução redentora. Hoje vejo que houve muitos excessos, me lembro inclusive da prisão do meu tio Alziro Gomes, do comerciante (de Miracema) Mustafá Bucar e naquele tempo mesmo eu já direcionava certa ação policial para beneficiar injustiçado, pobre que estava ali sofrendo as agruras da revolução. Não sei se talvez essa mistura de situações e até de aprendizado tenha forjado a minha personalidade, mas uma coisa é certa, eu sempre olhei para os mais humildes, os excluídos.
O sr. diz que está mais comunista hoje por fazer uma análise crítica dos excessos da revolução à qual foi favorável antes?
Nem tanto, porque os excessos da ditadura não tiram o mérito do milagre brasileiro e das grandes obras deste país. Se voltarmos ao governo do Médici, Ernesto Geisel nós vamos pensar em quê? Itaipu, maior usina do mundo, na ponte Rio-Niterói, maior ponte do mundo, vamos pensar no asfaltamento da Belém-Brasília no governo Médici, na Rodovia dos Imigrantes, nas grandes usinas como a do Pará (Tucuruí) — e às vezes usamos a energia dela —, vamos pensar na Transamazônica? Quando estava operado em São Paulo, no dia de vir embora eu vi um programa sobre a Transamazônica, que começa assim, a estrada que leva o nada a lugar nenhum, eu fiquei revoltado, daí passou o Mário Andreazza, o Médici, eu penso não, gastaram 2 bilhões de dólares, talvez o que a nossa presidente Dilma hoje esteja gastando em Cuba, lá em outro país fazendo portos. Mas o que faltou para a Transamazônica? Terminar. Muitos governantes fizeram asfalto até Marabá, mas os outros não estão fazendo. Eu sou crítico da Ferrovia Norte-Sul, que era para ser inaugurada em novembro de 2010 e já estamos em 2014 e não inaugura. O governo federal está patinando, aí temos de ser críticos. A revolução trouxe grandes obras, que não justificam os excessos, mas também a esquerda daquele tempo parece que eram diferente, com guerilheiros, eles eram violentos e a cada ação corresponde a uma reação de igual intensidade ou até maior. Naquele tempo quando falavam em comunismo as pessoas não assimilavam, era terrorista, mas eles tinham grandes ideais. O comunismo fracassou, o mundo agora tem que ser uma mistura. Eu não sei se é liberalismo ou um socialismo que atenda principalmente aqueles que mais necessitam.
O sr. já manifestou que o PR deve ser comandando pela deputada Luana Ribeiro, filha do senador João Ribeiro, que queria o partido na oposição. Com a mudança da direção qual o futuro do PR, pode mudar de posição?
Eu não sei o que vai acontecer, mas o que eu prego é que o PR não pode fechar as portas para ninguém, nem para o governo nem para as variantes de oposição. Eu sei de conversas com o governo, com o senador Ataíde, com o deputado Lázaro Botelho, com o governador Marcelo Miranda, com a senadora Kátia Abreu, com Roberto Pires, e com o PT, do Nicolau (Esteves). Não sei o que vai acontecer, mas gostaria que as decisões do partido, seja quem for o presidente, fossem tomadas no grupo, cada um expondo o seu desejo, a sua convicção.