Ao alcançar estágio satisfatório de reabilitação, o Centro de Fauna do Tocantins (Cefau) realizou a soltura do gavião-tesoura à natureza. A espécie de nome científico Elanoides forficatus foi encaminhado ao Instituto Natureza do Tocantins (Naturatins) pela equipe da Guarda Metropolitana de Palmas (GMP) após recebimento da ave durante entrega voluntária realizada na região Sul da Capital.
O Cefau confirmou nesta segunda-feira, 25, o sucesso da operação de retorno da ave de rapina à liberdade, realizada no último dia 18 sem divulgação, para proteção da espécie contra a ação de traficantes.
Há cerca de um mês, com intervalo de cinco dias, dois gaviões-tesoura foram recebidos no Cefau. Ambos foram hospedados em recinto apropriado para espécie. Nos primeiros dias, os indivíduos ainda jovens se mantinham empoleirados próximo ao piso. Com alimentação adequada e espaço contendo graus de obstáculos diversificados receberam estímulo ao desenvolvimento do vôo. Na última semana, uma das aves alcançou desempenho considerado suficiente à sobrevivência e autodefesa na natureza. Então foi realizado o voo de volta ao habitat natural.
"O Cefau é uma unidade do Naturatins determinante à recuperação de espécies resgatadas e ao seu retorno para o meio ambiente. A reabilitação desses animais oferece maiores chances de sobrevivência no retorno a natureza. A atuação das equipes de instituições parceiras contribui com o sucesso desse salvamento. E o Instituto busca constantemente o apoio da população na vigilância e denúncia da tentativa criminosa de criação ou tráfico de animais silvestres", afirmou o diretor de Biodiversidade e Áreas Protegidas, Warley Rodrigues.
A médica-veterinária do Naturatins, Grasiela Pacheco, relatou. "A recuperação e soltura desse gavião-tesoura é um ganho para fauna. O outro gavião-tesoura ainda permanece sob nossos cuidados, em processo de reabilitação. Ele já iniciou as tentativas de vôo. Então acreditamos que em breve também estará pronto para retornar a liberdade, onde é o lugar deles. As duas aves foram localizadas no mesmo bairro, com característica da espécie ainda jovem".
Acredita-se que pelas semelhanças das aves haja possibilidades de parentesco entre os espécimes. Quando chegaram ao Cefau foram colocados em recintos individuais, sob quarentena, para observação do desempenho das atividades fisiológicas. Em seguida houve a transferência para um recinto maior, com nove metros quadrados. Ao iniciar as tentativas de vôo foram acomodados no ambiente de 180 metros para treinar e fortalecer a musculatura das asas.
Grasiela considera muito importante divulgar a proibição por lei da criação de animais silvestre. É uma forma de incentivo a proteção das espécies, à realização da entrega voluntária e ao combate à ação de traficantes. Ela reitera que somente livre na natureza, um animal selvagem pode ser pleno e cumprir sua função no equilíbrio dos ecossistemas.
Gavião-tesoura
O nome popular gavião-tesoura tem origem no formato em ´V´ da cauda longa. Já o nome científico, Elanoides forficatus, se explica pelo significado, do (grego) elanus = referente ao gênero Elanus = gavião; e oidës = parecido, similar; e do (latim) forficata, forficatus, forfex, forficis = fórceps, tesoura. ⇒ Gavião semelhante aos do gênero Elanus com cauda em forma de tesoura. É uma ave Accipitriforme da família Accipitridae. Durante a primavera migra até o sul do Brasil para se reproduzir, portanto é uma ave neotropical.
O gavião-tesoura possui duas subespécies: Elanoides forficatus forficatus (Linnaeus, 1758) - ocorre dos baixos da costa sudeste dos Estados Unidos da América até o norte do México; e Elanoides forficatus yetapa (Vieillot, 1818) - ocorre do sul do México, (exceto na Península de Yucatán) até o Brasil e o nordeste da Argentina.
Características
Com o corpo delgado, pés e pernas muito pequenos, atingem de 52 a 66 centímetros de comprimento. As asas têm envergadura de 120 a 135 centímetros. As fêmeas são maiores atingem peso máximo de 435 gramas e os machos chegam a 407 gramas. Com dorso e asas negras, cabeça e partes inferiores brancas, e cauda extremamente furcada, negra, semelhante à do tesourão. Também é conhecido pelos nomes de gavião-das-taperas, gavião-tesoira, itapema, tapema e tesourão.
Aves de Rapina
As águias, gaviões, falcões, corujas, abutres e urubus são fascinantes aves de rapina. Carnívoros, a espécie possui acuidades visuais e auditivas, além da habilidade de exímios caçadores. No mundo, estima-se que existam mais de 500 espécies de rapinantes. No Brasil, segundo a lista de espécies de aves de rapina (2015) do Comitê Brasileiro de Registros Ornitológicos, existem cerca de 100 espécies. Na lista se evidencia o predomínio da variedade de espécies gaviões e águias. Os urubus são da espécie que apresenta menor variedade.
Livro Vermelho
A edição 2018 do Livro Vermelho da Fauna Brasileira Ameaçada de Extinção organizado pelo ICMbio - Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade do Ministério do Meio Ambiente (MMA) possui sete volumes, o volume III que trata das aves, não contém registro de risco de extinção do gavião-tesoura.
Mas outras espécies de gavião recebeu a classificação de risco de extinção. Foi considerada ´Em Perigo´, a espécie conhecida popularmente como gavião-de-pescoço-branco, de nome científico Leptodon forbesi. Outras três espécies se enquadram na classificação ´Vulnerável´, o gavião-cinza ou Circus cinereus Vieillot; gavião-pombo-pequeno ou Amadonastur lacernulatus; e o gavião-real, harpia ou Harpia harpyja.
Linha Verde
O canal de denúncia Linha Verde do Naturatins foi criado para facilitar o atendimento da população. Seja por meio do telefone 0800 63 1155 ou no site naturatins.to.gov.br o denunciante não precisa se identificar.
A denúncia de crime ambiental, a solicitação de resgate de animal ou entrega voluntária apenas exigem informações precisas do local da ocorrência. (Fontes Naturatins; Guarda Metropolitana de Palmas; Instituto Chico Mendes de Biodiversidade; Ministério do Meio Ambiente e Comitê Brasileiro de Registros Ornitológicos).