Para lembrar o quão grande era esse homem, um de seus muitos amigos nos enviou o seguinte texto abaixo:
Estou em paz comigo mesmo e acho que cumpri
minha missão. No entanto, se o gemido dos
moribundos não me tiver atingido a alma, que
julguem o meu espírito aqueles que não me
conheceram. (Murilo Bahia Brandão Vilela).[1]
Dr. Murilo, o senhor é uma lembrança forte, viva, que não nos deixa sentir tristes, apesar de sentirmos sua falta.
O menino do Engenho Mata Verde que cresceu ao lado dos entes queridos, tornar-se-ia Dr. Murilo, médico que deixou um grande legado: como profissional utilizou seus conhecimentos para curar, aliviar sofrimentos, trazer esperanças, ajudar crianças virem ao mundo. Seus pacientes não eram apenas pacientes, ou clientes, como muitos os fazem, eram seres humanos, cuidados com respeito, carinho, afeto e desvelo.
Só alguém que ama profundamente o próximo e vê além das aparências, encontra poesia em pessoas maltrapilhas, mentalmente doentes, como Jorge Doido e Maria dos Passarins, homenageando-os, no mundo onde a essência é menosprezada.
Não importa que a pronúncia do seu nome não esteja correta, o que importa é a expressão fisionômica. Não é assim Doutô Morilo, Doutô Morilho?
O anfitrião, que ao lado de sua esposa Conceição, recebia os amigos para conversas animadas, não importava se eram iletrados ou letrados, falando, ouvindo, compartilhando, sorrindo, apreciando a linguagem, respeitando opiniões e colocando as suas. O homem fiel consigo mesmo, o que prova caráter e consciência do seu eu.
O escritor que deixou as suas obras cheias de poesia, que adentrou no universo da velha Tonha o amor e a dedicação do seu neto Manuel, no conto Taipoca, no livro Taipoca, crônicas e contos, onde a linguagem utilizada pelas personagens é regionalista:
– Se alembra da Ave – Maria, aquela rezinha curta e verdadêra que te ensinei pra tu rezá no manhincê do dia e na boca da noite? Agora ela vai sirvi mas pra eu do que pra tu...[2]
Em ÁGUA, PEDRAS, CORRENTEZA, o estudante de Direito Vadeco, exilado político em sua própria terra, na sua caminhada incerta encontra o deficiente mental Sacaca, ambos se igualam na limitação, um por ter uma consciência maior, outro pela debilidade física e mental.
Como sua aparença num é muito diferente da minha, achei que nóis era colega de bobice[3].
Dr. Murilo, aquele coqueiro da foto se faz presente através do que ele representou: paz, equilíbrio, firmeza, serenidade; ele estava entre tantos de sua espécie e se destacou. O senhor na sua caminhada nesta terra destacou-se por meio de suas obras, as literárias e as outras...
O menino do Engenho da Mata Verde vive na saudade, nas lembranças e agradecimentos a Deus, por tê-lo nos dados de presente, e ao Senhor pela convivência. Este é o legado deixado pelo homem MURILO BAHIA BRANDÃO VILELA.
É dificílimo escrever sobre alguém tão querido e além de tudo literato, mas esta é a forma que achei para homenageá-lo neste primeiro ano de sua partida.
MARIA DINOAN SOARES VIANA
Palmas, aos 19 dias do mês de maio de 2012.