A alternativa energética à construção da Usina Hidrelétrica de Belo Monte, no Pará, seria a instalação de 19 usinas termelétricas a gás natural, muito mais poluentes. A comparação foi feita ontem por Mauricio Tolmasquim, presidente da Empresa de Pesquisa Energética (EPE), vinculada ao Ministério de Minas e Energia. Ele participou de debate na Subcomissão Temporária para acompanhar a execução das obras da Usina de Belo Monte, cujo impacto socioambiental é fonte de polêmica.
Ao defender a hidrelétrica, Tolmasquim disse que as 19 usinas térmicas gerariam a cada ano cerca de 19 milhões de toneladas de gás carbônico, um dos causadores do efeito estufa.
Também mencionou a expectativa de que, nos próximos anos, a economia brasileira cresça em média 5% anualmente. Com isso, afirmou, o Sistema Interligado Nacional (SIN), que distribui a energia pelo país, terá de expandir sua capacidade instalada em mais de 50% em dez anos.
Membro da diretoria do Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS), István Gárdos concordou com Tolmasquim. Para ele, a sociedade tem de decidir entre o impacto ambiental provocado por usinas hidrelétricas e a poluição causada pelos gases poluentes das térmicas.
Tolmasquim informou que o projeto de Belo Monte será encarecido em até R$ 3 bilhões para atender demandas ambientais e de comunidades indígenas.
— Para não inundar os locais onde vivem cerca de 225 índios, será construído um canal que custará cerca de R$ 2 bilhões — disse, acrescentando que Belo Monte vai beneficiar 60 milhões de pessoas.
O presidente da EPE explicou que, para reduzir os impactos socioambientais de Belo Monte, a usina não será capaz de gerar seu potencial, que seria de 11 mil megawatts. Ele observou que uma das restrições respeitadas foi a não construção de grandes reservatórios de água a montante da usina (antes da barragem).
Com o mesmo raciocínio, o representante da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) Hélvio Neves Guerra assinalou que, “para atender demandas sociais, houve sacrifícios quanto à energia que poderia ser gerada”.
No entanto, a adoção do modelo a fio d’água — cuja energia é gerada com o fluxo da água do rio — preocupa.
István Gárdos, do ONS, alertou para a dependência do regime de chuvas.
— Se for mantido esse modelo, será necessário recorrer a termelétricas. É preciso discutir as opções — acrescentou Delcídio do Amaral (PT-MS), relator da subcomissão.
Jornal do Senado