O professor de Comunicação Social da Universidade Federal do Maranhão (UFMA), Gilbert Angerami, que trabalha no campus da cidade de Imperatriz, criou a personagem Priscila Camburão para dar suas palestras e apresentou a drag queen no Programa do Jô, na madrugada desta sexta-feira (29).
No programa, o professor contou como surgiu a personagem e fez uma transformação, encarnando Priscila Camburão no palco, dançando, brincando com o público e arracando risos e aplausos da plateia. Confira a entrevista de Jô Soares com Gilbert Angerami e Priscila Camburão.
Jô - Ele é professor do curso de jornalismo da UFMA (Federal do Maranhão) e criou uma personagem para dar suas palestras. Gilbert Angerami!
Jô - Qual é a sua altura?
Gilbert - Eu tenho um metro e noventa.
Jô - Só?
Gilbert - Só.
Jô - Quando você entrou, eu pensei dois metros pelo menos.
Gilbert - É, produzido a gente fica um pouco mais alto, mas a minha estatura mesmo é um e noventa mesmo.
Jô - Você é professor no Maranhão...
Gilbert - Isso, em Imperatriz, a segunda maior cidade do Maranhão, cidade da qual eu tenho muito orgulho de trabalhar, onde a gente tem um campus avançado da universidade e eu trabalho no curso de comunicação social, jornalismo e, atualmente ministro uma disciplina de laboratório em assessoria de comunicação.
Jô - Você é carioca. Como é que você foi parar no Maranhão?
Gilbert - Sim, sou carioca. Então, Jô, na época, eu trabalhava muito no Rio. Eu dava aula em duas universidades particulares, tinha duas matrículas no Estado, dava aula em pós-graduação, então era aquela loucura, uma correria danada, e eu desenvolvi um processo de estresse muito grande, e eu falei, não, eu não quero isso pra mim, quero uma coisa mais tranqüila. Então comecei a procurar concurso para universidade pública. Na época, eu tinha concluído apenas o mestrado e não abria concurso pra região Sudeste, Sul só com mestrado, mas com doutorado, e eu ainda estava fazendo o doutorado. Aí, apareceu uma oportunidade pra eu fazer prova pra Rondônia, então eu fiz. Fui pra lá, fiquei lá 3 anos e acabou que a coisa não deu certo. Eu consegui uma transferência e aí eu fui pra Imperatriz. E foi uma situação interessante porque eu cheguei em Imperatriz, não conhecia nada de lá, cheguei com uma mala e um travesseiro embaixo do braço, bem retirante mesmo. E eu falei, gente o que eu faço? Então eu fui convivendo, fui aprendendo, conhecendo as pessoas, e aí a coisa foi fluindo e eu tô lá até hoje.
Jô - A sua formação já encaminhava você para ser um professor?
Gilbert - Quando eu era pequeno, minha mãe perguntava o que eu queria ser quando crescesse e eu respondia "quero ser professor", e minha respondia "não faça isso, meu filho, professor não dá, ganha pouco", porque ela é professora. Mas, na verdade, eu só descobri mesmo minha vocação de professor quando eu fiz minha primeira pós-graduação. Eu estava estudando Marketing Empresarial e eu tive um professor que perguntou "quem aqui quer dar aula nos cursos gratuitos da universidade?". E eu levantei a mãe. Ele disse "você vai dar aula então de administração de vendas". Eu falei, tá ok. Nunca tinha visto aquele conteúdo na minha frente. Cheguei em casa, comecei a estudar aquilo, a pegar material e comecei a dar aula. E nisso, eu comecei a pegar gosto pela coisa, eu fiz comunicação e publicidade, tava ainda naquela dúvida, vou trabalhar em agência, vou trabalhar com marketing, o que eu vou fazer? Então eu fui convidado pra dar aula em universidade particular e aí pronto. Assim que eu entrei na universidade particular foi muito interessante. Eu entrei em agosto e quando foi em setembro, o coordenador do curso me chamou e me disse que, ou eu entrava para o mestrado ou não teria como continuar. Naquele mesmo ano, fiz prova e entrei pro mestrado e depois fiz doutorado.
Jô - Você criou uma personagem pra dar suas palestras... Como surgiu essa personagem?
Gilbert - O processo de ensino e aprendizagem requer criatividade. Sem criatividade, o aluno fica na mesmice do famoso "cuspe-giz". O professor fica lá, é o todo-poderoso, eu sei e você me obedece, eu vou lá e faço. Então, quando eu comecei a dar aula, eu tinha já uma pré-formação teatral, sou ator formado também. Então, eu comecei a brincar com a disciplina, com o conteúdo, fazia um tipo, uma voz diferente, fazia um trejeito diferente e a coisa começou a agradar. E eu falei, eu acho que é por aí o caminho.
Jô - Como é o nome dessa personagem?
Gilbert - Essa personagem foi sendo adaptada. Eu comecei em uma brincadeira de carnaval e, de repente, ela foi crescendo e eu comecei a ter que profissionalizar essa personagem, e tive que dar um nome. E foi na época do "boom" do filme "Priscila, A Rainha do Deserto" e eu aproveitei e escolhi o nome. E o sobrenome, como eu trabalho com humor, com caricatura, eu falei eu acho que camburão é uma coisa interessante e aí botei Priscila Camburão. A coisa pegou, o pessoal gostou, a coisa foi acontecendo...
Jô - Um metro e noventa de Priscilão?
Gilbert - Exatamente, Camburão.
Jô - Você vai mostrar aqui pra gente a Priscila?
Gilbert - Claro, vou mostrar. Porque a Priscila, na verdade, é uma personagem que ela tem umas características específicas [Começa a se caracterizar]. Em função disso, a gente precisa se ajustar [Começa a se maquiar] para agradar o público. Uma característica interessante da Priscila é justamente a boca [Começa a passar batom] porque a boca é uma coisa que chama muita atenção e o que eu reparei, na época, é que a maioria das drags faziam boca de batom, batom vermelho, com glíter e eu [Interrompe dizendo que não dá para falar]...
Jô - Eu falo então. É que a Priscila Camburão é muito mais artística, ela usa o "crayon", o francês para lápis.
Gilbert - Nossa! Depois de uma aula dessa de maquiagem...
Jô - Ah, em matéria de "viadagem", eu entendo tudo [Risos e aplausos]. Vou deixar claro que "viadagem" não tem nada a ver com ser gay ou não ser gay. É ter uma sensibilidade pra coisas boas, pra cenário. O que é você tá rindo? [Para o Bira, integrante da Banda do Jô].
Gilbert - Acho que o Bira se identificou com a história.
Jô - Totalmente. Ela é conhecido como Carlota, a Rainha da Catinga. [Risos].
Gilbert - Disso, eu comecei a fazer o batom branco, usando o "clown", que é uma maquiagem específica de palhaço. [Passa o produto na boca].
Jô - Esse branco é o famoso "clown" usado pelos palhaços. Só que eles fazem aquela boca falsa. Aqui não, é a boca mesmo, branca, também pra fugir do clássico vermelho.
Gilbert - O pessoal pergunta, às vezes, se eu tô com pasta de dente na boca e dependendo da situação, a gente brinca e dá uma resposta mais ousada, mas uma coisa que é muito interessante, é que a Priscila acabou virando mais que uma personagem, ela virou uma outra pessoa. Os alunos chegam, "E aí professor? E a Priscila? Quanto tempo que eu não vejo a Priscila." E eu digo "Pois é, ela tá dentro do armário, tá descansando porque ainda não foi chamada para dar o ar da graça. Na própria universidade, por exemplo, na festa junina, o CA (Centro Acadêmico) me contrata pra eu fazer a Priscila dentro da própria universidade, onde eu trabalho. É muito interessante o respeito para com o trabalho do profissional, é saber separar a coisa do professor e do ator. Então, eu preparei pra você, Jô, uma brincadeira pra gente ver essa transformação do ator, porque todo professor, na verdade, é um grande ator. Porque ele entra em sala de aula e precisa se transformar, tem que transformar um conteúdo desse "tamaninho" em outro desse "tamanhão", então, quando ele sobre ali naquela frente, ele acaba se transformando mesmo. E é mais ou menos em cima disso que eu faço. [Se levanta, vira de costas, tira os óculos revelando olhos pintados, coloca peruca, tira a camisa de botões, a calça jeans, revelando a roupa da personagem por baixo, quando começa a tocar uma música da banda Calypso. Priscila Camburão entra em cena e começa a dançar].
Priscila - Bom, gente, pra quem não me conhece, eu sou Priscila Camburão, a rainha da comunicação, diretamente de Imperatriz, do Maranhão, para todo Brasil. [Vira para a plateia e se dirige a um rapaz]. Nossa! Que gracinha! Tudo bem, meu amor? Você está sozinho? Se depender de mim, vai continuar sozinho, meu amor. [Vira-se para Jô]. Jô, posso te dar um beijo?
Jô - Não! Não, eu ainda tenho que fazer entrevista. Gilbert Angerami, Priscila Camburão!
Vejam Abaixo a entrevista na íntegra:
Do G1/MA