Ele diz que situação não o incomoda; secretaria alerta para focos de dengue. Psiquiatra afirma que caso se trata de TOC e requer tratamento, em Goiânia.
Para entrar na casa do aposentado José Carneiro é preciso ter, como ele mesmo diz, "prática". Morador do Setor Campinas, em Goiânia, ele acumula uma verdadeira montanha de lixo dentro de casa. No local, existe entulho de todo tipo, como sucata, vasos de plantas, caixas de papelão, sacos plásticos e até eletrodomésticos espalhados por todo o imóvel. Especialista afirma que caso se trata de Transtorno Obsessivo Compulsivo (TOC).
Questionado sobre a situação e a dificuldade em entrar na casa, ele diz que não existe qualquer problema. "Por enquanto não estou incomodado não. Faltou prática [para entrar] igual eu já tenho. Eu já me acostumei", explica.
Em levantamento feito pela Secretaria Municipal de Saúde (SMS), foram identificadas 57 casas com o mesmo problema em Goiânia. Eles monitoram a situação para tentar evitar que sejam criados focos do mosquito Aedes aegypti, transmissor da dengue. Mas precisam da autorização do morador para que os agentes possam trabalhar.
“Estamos pedindo socorro para eles nos ajudarem também, não só nós, agentes de saúde, mas ter uma parceria de outros órgãos para fazer esse serviço aqui. Quando vir a chuva, com certeza terá milhões de focos encontrados aí dentro", disse Márcia Régia, supervisora de agentes de saúde da SMS.
No bairro, já foram registrados 422 casos de dengue neste ano. Para poder efetuar a limpeza, a prefeitura terá que contar com o apoio do judiciário. "Nós vamos pedir a assessoria jurídica da secretaria que faça a ação devida com a Justiça para que a gente possa fazer a limpeza desses locais junto com a Comurg", afirma Edson Almeida Gomes, diretor de Vigilância em Zoonose de Goiânia.
Outros casos
Na Vila Santa Helena, vizinha ao Setor Campinas, já foram registrados 321 casos de dengue. Na região, também vive um acumulador. Um idoso, como mais de 70 anos de idade, que também mantém lixo amontoado em casa. Ele não estava na residência quando visitado pelos agentes, mais um cunhado confirmou a dificuldade para lidar com o problema. "Não tem meio de falar com ele. Vai falar e ele estressa com a gente. Não é fácil não. A gente podia até trabalhar com alguma coisa e isso atrapalha", diz o homem, que não quis se identificar.
Segundo a secretaria, há quatro anos, os agentes ganharam na Justiça o direto de limpar a casa. Na época, o morador foi se tratar em uma clínica, mas voltou e o problema recomeçou.
Doença
De acordo com o psiquiatra Dhin Ally, os casos dos dois idosos são típicos de um tipo de TOC, conhecido como Síndrome de Diógenes. "A pessoa acumula lixo com a percepção equivocada, praticamente delirante, de que ela vai precisar daquilo em outro momento", explica.
Ele afirma ainda que o caso é considerado doença a partir do momento em que a pessoa perde o controle da acumulação, amontoando objetos que não tem utilidade, indica o desenvolvimento do TOC.
"Existe tratamento medicamentoso e através de terapia, inclusive na rede pública de saúde, através dos Caps [Centros de Atenção Psicossocial], além do ambulatório de psiquiatria da prefeitura de Goiânia", diz.