O lema “Vidas alheias e riquezas salvar” resume a real existência da Corporação em todo o Brasil e até em outros países. No dia 02 de julho data em que se comemora o dia do bombeiro muitas histórias valem a pena ser relembradas.
A rotina de um bombeiro não é nada previsível, quando a situação parece estar “tranqüila”, tudo pode acontecer. Para atender a tantos imprevistos, além do domínio de técnicas de salvamento e de excelentes condições físicas, o bombeiro tem que estar preparado emocionalmente e sempre se lembrar que nenhuma técnica é infalível para conter as emoções vivenciadas.
“Às vezes a gente se emociona se sente impotente por achar que poderia fazer melhor, mas às vezes, por falta de condições ou de outros fatores, até mesmo provocados pela própria natureza, nem sempre conseguimos”, desabafa Coronel Dodsley Yuri Tenório, primeiro bombeiro do Tocantins. Ele compara a alegria de um atendimento de sucesso com a emoção de ganhar um troféu. “Quando não conseguimos, nos sentimos decepcionados”, revela.
Desde o início da Corporação, o Coronel Yuri, guarda experiências e relatos que valem vidas. Ele relembra que algumas cenas que nunca saíram da sua memória, entre elas algumas marcantes como olhares de tristeza e de agradecimento.
Ações que valem vidas
Sacrifícios como os do Major Abreu são recompensados de duas formas: pela satisfação do dever cumprido e pela gratidão das pessoas socorridas. E é esse sentimento que ele guarda como lembrança positiva; o resgate de um rapaz que se encontrava preso a uma rocha, em um dos paredões da Serra do Lajeado. “Ele já havia passado a noite naquele lugar. Nunca esqueço a alegria daquele homem ao ser resgatado. Esse tipo de imagem nos motiva nos fortalece”, comenta.
O sentimento de gratidão também se mantém vivo entre o 1º Sargento Mauro Alves da Silva e a família de uma criança por ele resgatada. O fato que gerou esta aproximação foi o salvamento da vida de uma recém-nascida, que havia sido jogada pela mãe, após o nascimento, em uma cisterna de aproximadamente 15 metros de profundidade. Um dos tios da criança, que não quis se identificar para resguardar a privacidade da família, revela com orgulho: “Reconhecemos que devemos a vida da nossa sobrinha ao Sargento Mauro. Foi ele quem devolveu a vida a ela”, explicou o familiar.
José Senna, coronel e médico da Polícia Militar, também têm motivos para reconhecer o trabalho dos bombeiros. Ele teve a sua vida e a de duas crianças salvas, graças ao trabalho eficiente de dois bombeiros: na época, os cabos Isaias Lopes de Castro e Jackson de Souza Rodrigues. “Eu estava tomando banho na cachoeira do Lajeado, com duas crianças, quando caímos em um buraco. Sem a ajuda dos bombeiros não teríamos conseguido sair daquele lugar”, relata Coronel Senna.
Vila União, 1995 - O incêndio que entrou para a história e memória dos bombeiros.
A verdade é que muitas das ocorrências trazem lembranças tristes. Como a do primeiro incêndio de Palmas, ocorrido em 1995 na antiga Vila União, hoje área norte da capital. “Não tínhamos veículos nem equipamentos adequados para combater incêndio, mas não poderíamos deixar de atender a demanda.”, disse Major Abreu, um dos integrantes da operação.
Historicamente, o incêndio é um dos de maiores proporções já ocorridos em Palmas. Um dos fatores propagadores foi o material utilizado na construção da maioria das casas tendo como base madeira e lona de plástico, o que fez o fogo se propagar com grande rapidez. “Nossa maior missão foi retirar as pessoas das residências, além de derrubar barracões próximos aos incêndios, para tentar controlar o fogo, retiramos os botijões de gás. Como não tínhamos roupas adequadas, mergulhávamos em galões grandes de água, antes de entrar nas áreas em chamas. Mesmo assim, ainda saí com o cabelo e algumas partes do corpo queimadas”, relembra Abreu.
Mesmo essa ocorrência não tendo resultado em mortes, Major Abreu guarda tristes lembranças daquele dia. “O que conseguimos resgatar foi muito pouco para aquelas famílias que já não tinham quase nada. Principalmente devido ao fato de uma ventania haver tomado conta do local. Mesmo com o conhecimento técnico não pudemos fazer muito”, revela.