A experiência constitucional da Nova República em criar o Estado do Tocantins, através do Art. 13 dos Atos das Disposições Constitucionais Transitórias, por certo, influenciou em muito a estrutura social, política e econômica desta que, outrora, fora a região mais pobre e problemática dentro das antigas fronteiras do Estado de Goiás, transformando-se consideravelmente para o que vemos hoje.
Não foi à toa que o ex-presidente José Sarney permitiu-se transigir com as lideranças do movimento emancipacionista a fim de que Araguaína não se tornasse a capital da nova unidade federativa. A influência seria sentida mais longe, atingindo certamente Imperatriz, a principal cidade do interior do Maranhão e, em grau de estratégia política, o bairrista presidente da República não quis que ocorresse essa visível ameaça à viabilidade econômica daquele município. Uma capital há pouco mais de duzentos quilômetros iria esvaziar a cidade, de pessoas, de investimentos, de capitais.
Por outro lado o texto legal, deixou-se conduzir pelo espírito altaneiro e democrático, outorgando ao povo a garantia (em tese) da origem do poder. É o que diz o parágrafo único do primeiro artigo da Constituição da República. Contudo, não foi bem assim que ocorreu para essas terras. Araguaína, titular por excelência das atribuições de capital, viu-se alijada do lugar para dar espaço a um sonho nababesco e, por que não dizer, ousado. No centro geográfico do Estado e do País, a última capital planejada do século XX, propunha agregar à todas as regiões distintas das novas e recentes fronteiras tocantinenses.
Palmas, então, brilhava inconteste, tentando imitar Brasília. Talvez o sonho idealizado do desbravador fosse assemelhar-se à Juscelino, porém, sem o mesmo estilo e elegância. Digamos que um Faraó ao Pequi. Não se viu realizar o projeto agregador, nem muito menos o crescimento integrado. Pelo contrário, vimos Araguaína crescer e andar com suas próprias pernas, dependente apenas institucionalmente da capital biônica. E isto vem sendo solidificado ao longo destes vinte e cinco anos, provando que verdadeiramente a capital deste Estado está bem longe do Palácio Araguaia.
Por falar em Araguaia, a posição geográfica de Araguaína é que impulsiona a economia do Estado. Entre os Rios Araguaia e Tocantins, com acesso ao mercado paraense, o mais forte da Região Norte, além das hidrovias, portos e ferrovias, Araguaína desponta quase que em uma economia inteiramente independente da capital constitucional do Estado que, ao contrário, está há pelo menos cem quilômetros afastada da coluna vertebral “Belém-Brasília”. Transformou-se em uma cidade dormitório, refeitório e sanatório, ao contrário que Araguaína desenvolveu-se, sim, como Urbe, em todos os sentidos. Os fatos são as maiores provas de que todo o Norte do Estado sobrevive unicamente por conta da força econômica de Araguaína. Atrevo-me a dizer mais: é um Estado dentro de outro e que ganha força autônoma a cada momento.
Estamos há poucos dias de 2014 e para este próximo ano, vislumbro uma Araguaína cheia de desafios a serem vencidos. Alguns serão mais difíceis que outros. Peculiar de toda a grande cidade, mas o que move esta grande engrenagem é a essência desbravadora que aqui pulsa, desde os pioneiros às margens do Rio Lontra e que deixaram como legado, e que somaram-se aos outros construtores da história desta cidade, oriundos das mais diversas paragens desta grandiosa nação.
Araguaína não surgiu por acaso, mas quis o destino transformá-la neste caldeirão em plena ebulição de sotaques, costumes, tradições e origens, para que o norte brasileiro pudesse ser nela representado, em toda a sua homogeneidade.
*Marcos Reis é advogado, escritor, historiador e professor de Direito Constitucional e Penal. Autor do romance “Cabanos, a História” e outros títulos. Natural de Belém. Pertence à Academia Paraense de Letras.