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Clínica Trata Viciados em Internet e Games

Data do post: 23/06/2014 21:47:22 - Visualizações: (2321)

Reportagem mostra o controverso centro de reabilitação para viciados em games e internet dos EUA.

Foto DivulgaçãoDivindindo opiniões de especialistas, reSTART é o primeiro local criado para receber especificamente pacientes com vício em games e internet

O vício em videogames nunca recebeu uma classificação no Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM), publicação de definição de critérios da Associação Psicológica Americana sobre todas as coisas relacionadas a distúrbios mentais. Mas isso não impediu que os americanos transformassem o vício em games em objetos de estudo, incluindo aí a criação de programas de reabilitação.

Em reportagem publicada na Motherboard, o jornalista Jagger Gravning mostra como funciona o reStart, um centro de reabilitação para viciados em videogames e internet no meio da floresta em Fall City, no Estado de Washington. Este é o primeiro local criado para receber especificamente pacientes com vício em games e internet.

É uma leitura fascinante e profundamente sutil, e que pinta um retrato perturbador dos efeitos insidiosos que a tecnologia moderna pode ter sobre os homens propensos ao vício, por uma razão ou outra.

Foto DivulgaçãoEu digo “homens” porque, segundo a reportagem de Gravning, os fundadores do reSTART decidiram desde o começo que a instituição iria receber apenas pacientes homens até que pudessem construir uma ala separada para receber mulheres. Além disso, a maior parte dos possíveis pacientes é composta por homens.

A maneira em que a doutora Hilarie Cash, co-fundadora e diretora-executiva do reStart, descreve o vício em videogames acaba soando como uma doença que ataca as ansiedades masculinas. “A testosterona está no organismo!” ela diz sobre os pacientes do sexo masculino. “Eles precisam canalizar isso em algo útil”, explica.

Segundo Hilarie, os pacientes têm dificuldade em canalizar essa testosterona porque, apesar de estarem “socialmente engajados online”, eles acabam “isolados na frente de uma tela”. Todos os pacientes que são encaminhados para o reSTART são entrevistados para determinar se “o vício em pornografia é o problema principal”. Quando não é, “eles acabam sendo tratados pelo vício em pornografia como um problema secundário”, explica Hilarie.

Como muitos tipos de vícios relacionados à internet, no entanto, Hilarie sugere que o vício em pornografia e videogame trazem efeitos desastrosos sobre o bem-estar emocional e mental de uma pessoa. Como ela diz para Gravning:

Foto Divulgação"Segundo Hilarie, pesquisas mostram que quanto mais uma pessoa fica online, mais depressiva ela se torna. 'É a minha teoria de que a ressonância límbica não ocorre quando você não está cara-a-cara com alguém. Isso exige, talvez, o estímulo dos nossos sentidos', explicou ela. 'Temos de ser capazes de ver, ouvir e tocar, sentir e cheirar uns aos outros para que a ressonância límbica ocorra. Mas o que acontece é que as pessoas buscam satisfazer suas necessidades sociais online'."

Pela perspectiva de Hilarie, um jogo popular e com uma vibrante comunidade online, como World of Warcraft, seduz muitos homens com a promessa de oferecer-lhes uma comunidade na qual eles podem se estabelecer fazendo coisas interessantes que não podem fazer na vida real. Com o tempo, no entanto, matar monstros, coletar itens e fazer amigos na realidade virtual começa ficar mais interessante do que qualquer coisa fora do jogo.

Lendo os testemunhos publicados no site do reSTART e aqueles dados à Motherboard, é difícil ignorar o sofrimento desses pacientes. Mas o que torna este um assunto controverso, e “vício em videogames” uma ciência dúbia, é que quase tudo que Hilarie diz para descrever o vício também poderia ser aplicado apenas para o ato de se jogar videogame, com vício ou sem vício.

O videogame pode ser um veneno, sem dúvida. Mas é apenas um de muitos. E, como outras coisas que são ocasionalmente identificados como “viciantes”, como redes sociais, pornografia ou até sexo à moda antiga, o vício em videogames é muito mais difícil de se identificar do que uma dependência química de, digamos, álcool ou metanfetamina.

O colunista de comportamento Dan Savage criticou repetidamente especialistas que fazem alegações sobre vício em sexo, que são muito semelhantes às afirmações que Hilarie faz sobre videogames e pornografia na internet, por exemplo. E Dan sempre retorna a um ponto-chave: é difícil, se não impossível, dizer se as pessoas que estão sendo informadas de que são viciadas em sexo realmente são, ou se elas estão apenas enfrentando outros tipos de traumas emocionais ou mentais que se manifestam por meio de comportamentos auto-destrutivos.

De fato, os três pacientes que deram entrevistas à Gravning relataram experiências traumáticas que precederam o mergulho de cabeça no mundo dos games. Um tinha um amigo que se suicidou após sofrer bullying online. Outro “teve experiências de abuso sexual e sofreu com a morte de seu avô”. O terceiro lutou contra a solidão ao fazer uma transição dolorosa do colégio para a faculdade.

Pessoas que sofrem com esses tipos de problemas merecem toda a ajuda necessária, é claro. E é difícil criticar alguém tentando dar isso a elas. Mas depois de ler a história na Motherboard (em inglês), fiquei um pouco cauteloso sobre o que a popularização desse tipo de diagnóstico pode significar.

Fonte: Yannick LeJacq- Kotaku