Além de Manaus, no Amazonas, a alta temperatura também tem sido realidade no Estado de Tocantins. A Região Sudoeste do Estado já completa mais de 100 dias sem chuva e o Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet) emitiu, no domingo, 21, alertas em laranja e amarelo indicando baixa umidade do ar e temperatura de até 37,4° em alguns locais do Estado, que apresentou o dia mais quente do País, até então.
De acordo com o meteorologista e doutorando, pelo Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa), Leonardo Vergasta, em resumo, Palmas, no Tocantins, é uma região de transição de bioma (Amazônia-Cerrado) e sua posição geográfica (baixas latitudes) faz com que ocorra pouca sazonalidade na temperatura. Isso acontece devido à disponibilidade de energia solar ser, praticamente, constante durante todo o ano, ocasionando em um maior aquecimento à superfície.
“Este é o padrão climatológico que acontece todos os anos, tanto em Manaus, quanto em Palmas. O clima atual da Região Amazônica é uma combinação de vários fatores, sendo que o mais importante é a disponibilidade de energia solar, por meio do balanço de energia. Medidas realizadas na Amazônia Central (Manaus-AM) indicam que os maiores totais de radiação que chegam na superfície ocorrem nos meses de setembro/outubro, sendo que os mínimos são nos meses de dezembro a fevereiro. Esta distribuição é controlada pela nebulosidade advinda dos sistemas meteorológicos formadores de chuva na região”.
Leonardo cita ainda o chamado efeito de nebulosidade, relacionado aos sistemas meteorológicos que atuam em determinada época do ano. Por exemplo, de dezembro a março, na parte Central da Amazônia, há o predomínio dos sistemas meteorológicos chamados de Zona de Convergência Intertropical (ZCIT), Zona de Convergência do Atlântico Sul (ZCAS) e Alta da Bolívia (AB), sendo esses sistemas, diretamente, ligados às chuvas que ocorrem na Região Amazônica neste período do ano.
“Quando chega o período seco, de junho a outubro, esse sistema se desloca e o regime pluviométrico diminui bastante, diminuindo assim a barreira de nebulosidade e, quando temos menos nebulosidade, temos mais radiação solar incidente chegando à superfície. O que vai controlar as temperaturas na nossa região vai ser, justamente, esse efeito de nebulosidade devido aos sistemas meteorológicos atuantes“, explica o meteorologista que complementa:
“Claro que existe uma combinação de inúmeros fatores, mas destacamos, aqui, esses dois principais, que são radiação solar incidente e efeito de nebulosidade“, salienta.
A Região Sudoeste do Estado já completa mais de 100 dias sem chuva, segundo o Instituto Nacional de Meteorologista (Inmet)
Efeito antropogênico
O profissional atenta para o efeito antropogênico (transformações que o ser humano provoca na atmosfera). Ele destaca que o desmatamento, o aumento de gases de efeito estufa na atmosfera (CO2 – dióxido de carbono e CH4 – metano) e o processo de urbanização intensificam o calor sentido pela população.
“Só para terem noção, uma árvore de 10 metros de altura tem a capacidade de colocar na atmosfera, por dia, cerca de mil litros de água. Então, tirando a vegetação que tem uma interação com radiação atmosférica que chega à superfície, você não terá mais a chamada refletividade, quando o verde das folhas reflete a energia solar incidente de volta para o espaço. O processo de urbanização dos grandes centros urbanos (prédios, asfalto, frota veicular) contribuem, diretamente, para que tenhamos cidades mais quentes e vulneráveis a eventos climáticos extremos. Isso já está sendo uma realidade não só na Amazônia como, recentemente, na Europa e nos Estados Unidos da América”, observa Vergasta.
Calor e Queimadas
Por conta da alta temperatura e falta de chuva, o Parque Estadual do Cantão, considerado a maior unidade de conservação do Estado tocantinense, já apresenta os impactos da estiagem com o nível da água mais baixo. Os dias quentes e secos também são vias facilitadoras para os focos de queimadas. Inclusive, o Estado de Tocantins, segundo um levantamento feito pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), registrou 5.003 focos de queimadas, na região, entre os dias 1° de janeiro a 11 de agosto.
O Estado continua ocupando a segunda posição no ranking nacional, com relação aos focos de queimadas, ficando atrás somente do Mato Grosso, com 9.587 registros. Somente nos primeiros 11 dias deste mês, Tocantins registrou 518 focos de incêndios florestais.
Considerando a classificação somente no mês de agosto, o Estado aparece em quinto lugar na lista nacional, ficando para trás apenas do Pará, com 1.838 registros, o Amazonas, com 1.173 incêndios, Maranhão, com 994 e o Mato Grosso, com 808 focos de queimadas, regiões que ocuparam as primeiras posições do ranking.
Segundo a Defesa Civil do Estado, o fogo tem destruído não só as pastagens de fazendas locais, mas também Áreas de Preservação Permanente (APP), regiões usadas para o plantio de soja e reservas legais.